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II Encontro das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais

Projeto Quilombos Gerais
10 de Abr de 2007

II Encontro das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais

Aconteceu em São João da Ponte, no Norte de Minas Gerais, o II Encontro das
Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais nos dias 30 e 31 de março
e 01 de abril de 2007.
O Encontro teve duas mesas temáticas. A primeira sobre os quilombolas de
Minas Gerais – história e identidade. Onde foram discutidos a questão
conceitual e política das comunidades quilombolas. A segunda mesa referente
às políticas públicas e a organização das comunidades quilombolas. A mesa
tratou das políticas públicas que estão em vigor no Brasil e no Estado de
Minas Gerais. Durante o debate foram salientados que pequenos projetos estão
acessíveis às comunidades quilombolas, mas a política fundiária ainda é um
tabu, principalmente no estado de Minas Gerais. E a necessidade dos
quilombolas se organizarem para a realização de uma ação mais contundente em
relação à efetivação de seus direitos, principalmente a questão fundiária,
também foi levantada na Mesa.
Participaram das mesas o antropólogo José Augusto Laranjeira Sampaio –
Associação Nacional de Ação Indigenista/Bahia e Associação Brasileira da
Antropologia – ABA, Maurício Reis da Fundação Cultural Palmares, Maria
Elisabete Gontijo dos Santos – Coordenadora do projeto Quilombos Gerais –
Cedefes, Maria do Carmo Ferreira da Silva – Secretária Adjunta da Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Seppir, o antropólogo
João Batista Costa da Unimontes e Luana Lazzeri Arantes – Ministério do
Desenvolvimento Social e do Combate a Fome.
As reivindicações e propostas acordadas no II Encontro de Comunidades
Quilombolas de Minas Gerais ficaram pautadas em algumas esferas que
perpassam pela regularização fundiária, cultural, ambiental, entre outras:
Esclarecimentos sobre os encaminhamentos necessários para aquisição
de auto-reconhecimento às comunidades que não possuem o certificado;
promover convênios com universidades, ONGs e outros órgãos para ajudar na
identificação dos territórios quilombolas; elaboração de um abaixo assinado
a ser encaminhado ao governo federal reivindicando ampliação no quadro
técnico do INCRA-MG, para atender especificamente a titulação de terras
quilombolas; providências quanto à violência e acirramento de conflitos nas
áreas quilombolas no Estado de Minas Gerais e denunciar a inoperância do
INCRA – MG frente à imensa demanda por titulação e o fortalecimento do Incra
de Minas Gerais via Incra Federal. Estas foram demandas ligadas ao
reconhecimento quilombola perante o Estado e à regularização fundiária.
A discussão sobre o associativismo quilombola gerou a criação de um
documento para ser encaminhado à Assembléia Legislativa solicitando um
projeto de lei que isenta as associações quilombolas de pagamento de taxas
referentes à formalização.
Foram identificados pela plenária como conflitos ambientais em áreas
quilombolas: o turismo predatório; dificuldade de acesso à água para o
consumo em quantidade e qualidade; desestruturação das atividades econômicas
locais e regionais; monoculturas – eucalipto; banana e desmatamentos;
implantação de PCHs e Mineradoras, dentre outros. As ações propostas foram
representar junto ao Ministério Público para resolver os conflitos
ambientais ocorridos nos territórios quilombolas com base nos artigos 68,
215 e 216 da Constituição Federal. Indicar um representante da federação
para encaminhar os vários conflitos ambientais locais e articular uma rede
de parceiros para dar visibilidade à luta pelo território quilombola.
A questão cultural foi bastante discutida, assim como a identidade
étnica específica quilombola. Buscar junto ao governo federal e estadual a
criação de espaços para promover o fortalecimento e multiplicação dos ritmos
afro quilombolas em Minas Gerais foi uma demanda da plenária. O
encaminhamento de solicitação ao IPHAN e ao IEPHA de registro das
manifestações culturais das comunidades quilombolas de Minas Gerais. Desta
forma, reconhecer a culinária, a música, a dança e principalmente o
território que ocupam como patrimônio imaterial do Brasil e Minas Gerais
também entrou na pauta cultural.
O racismo também foi uma temática trabalhada e alguns itens a
respeito foram apresentados e aprovados pela plenária. Estes itens são a
busca de incentivos para efetivar o estudo da cultura negra nas disciplinas
de história e artes nas escolas; compreender melhor as leis relacionadas com
o racismo e a implementação das políticas de promoção de igualdade racial
nos municípios aonde não existe.
A questão de gênero pautou a valorização da identidade mulher
quilombola em todas as esferas e setores (educação, saúde, geração de
renda); o fomento do PRONAF mulher voltado às comunidades quilombolas;
incentivo a criação de grupos organizados de mulheres quilombolas;
fortalecimento do papel da mulher quilombola na mídia (desde que a
comunidade esteja inserida em todo o processo) e o fomento a participação
efetiva das mulheres quilombolas nos diversos conselhos, instituições e
movimentos que envolvem a temática de gênero.
A esfera política também foi muito debatida durante o encontro.
Dentro deste aspecto a relevância da legalização do estatuto quilombola das
autoridades federais, para que este sirva de objeto de lei para a defesa dos
direitos quilombolas e o fomento a criação de uma frente parlamentar
quilombola para defender as propostas na assembléia legislativa de Minas
Gerais. Além destas propostas, a fiscalização de verbas destinadas às
comunidades quilombolas pelo governo federal junto às prefeituras locais
também foi agraciada.
Na esfera econômica, as possibilidades de geração de renda, como o
apoio à formação de cooperativa quilombola como estratégia de
desenvolvimento e comercialização dos produtos das comunidades quilombolas
foi debatido e aprovada pela assembléia.
Finalmente, a assembléia aprovou a articulação do movimento para reivindicar
em Brasília o atendimento às demandas das comunidades quilombolas no que se
refere ao acesso ao território quilombola.
No final do evento houve a entrega do certificado de reconhecimento a 09
comunidades quilombolas presentes no evento pela Fundação Cultural Palmares.
Participaram do evento aproximadamente quatrocentas pessoas, contabilizando
a presença de 46 (quarenta e seis) comunidades quilombolas de Minas Gerais
da região Norte, Jequitinhonha, Mucuri, Doce, Vertentes, Mata e
Metropolitana.
As reivindicações das comunidades se concentraram na questão fundiária.
Minas Gerais possui aproximadamente 400 comunidades, sendo que neste
universo, apenas uma comunidade foi titulada. A regularização do território
quilombola é primordial para que a cidadania e a diversidade étnica seja
respeitada. Outras questões como o acesso à educação, saúde, geração de
renda e a valorização cultural também foram salientadas.
O I Encontro das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais aconteceu na data
de 26 a 28 de novembro de 2004 em Belo Horizonte e foi promovido pela
Fundação Cultural Palmares e pelo Instituto Fala Negra. Neste I Encontro, a
questão cultural sobressaiu sobre as outras. No II Encontro, realizado pela
Ngolo, CEDEFES e Prefeitura de São João da Ponte, as comunidades
quilombolas se mostraram mais articuladas politicamente, sendo as propostas
mais concretas e objetivas, no que tange o fomento e efetivação de seus
direitos. A criação da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais
– N´golo (junho de 2005) e a luta e organização de associações quilombolas
pela terra – principalmente no Norte e Noroeste do Estado – além de outros
casos no Jequitinhonha (Mumbuca) e Mucuri (Marques) – politizaram
sensivelmente uma gama de quilombolas.
Hoje, a luta quilombola no Estado de Minas Gerais está se fortalecendo. Este
encontro serviu de fomento a novas propostas de ação e estratégias de luta.

Fonte: Projeto Quilombos Gerais, 10/04/07

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