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Idas e vindas na fronteira e drogas preocupam a PF

O Estado de S.Paulo-SP
28 de Out de 2001

Funai elaborou relatório e entregou à Polícia Federal, que tem poucos recursos para investigar

Os problemas na região não se limitam às invasões. Um relatório feito pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e entregue à Polícia Federal no fim do ano passado, ratificou o que as próprias autoridades já sabiam e nunca impediram: a freqüente entrada de índios paraguaios nas aldeias brasileiras da fronteira. O documento revela ainda outro fato ainda mais grave. Os indígenas paraguaios podem estar envolvidos com o tráfico de drogas da região.

Aparentemente apenas a PF se preocupa com o assunto, que vem sendo tratado com sigilo pelas delegacias de Ponta Porã e Dourados. O documento feito por uma das administrações regionais da Funai na região demonstra que a instituição não está preparada para tratar do assunto. "Por causa da insuficiência de recursos humanos e financeiros, este orgão (Funai) fica impossibilitado de oferecer um atendimento adequado às comunidades sob nossa jurisdição", confirma relatório feito por funcionários da Fundação.

Por este motivo, ninguém sabe exatamente quem é índio brasileiro ou paraguaio. Todos falam o guarani, têm características e hábitos semelhantes.

O delegado da PF em Dourados, Lásaro Moreira da Silva, confirma a entrada de índios paraguaios em algumas aldeias, principalmente as que estão localizadas próximas aos municípios de Antônio João, Paranhos, Iguatemi, Ponta Porã e Coronel Sapucaia. "Os índios não querem saber se aqui é território paraguaio ou brasileiro. Para eles, todos são guaranis, como eles próprios", diz Moreira da Silva.

Dependentes - "No Paraguai eles não têm a mesma política de proteção como no Brasil", afirma o chefe do núcleo da Funai em Dourados, Jonas Rosa, admitindo que o controle é difícil por parte da instituição. "Lá eles chegam a ser cidadãos comuns, por isso preferem vir para nosso território." Jonas conta que a dependência é tão grande que a Funai já teve de arcar com custos relacionados aos índios paraguaios, mesmo eles morando em seu país.

Um exemplo aconteceu em Campo Grande, a capital de Mato Grosso do Sul. Uma família paraguaia abandonou uma criança recém-nascida morta em um hospital, por mais de 30 dias. "Tivemos de mandar embalsamar o corpo, transportamos até Porto Murtinho, a cidade brasileira mais próxima da fronteira, e depois, de barco, para a aldeia onde os pais da crianças moravam, no Paraguai", conta Jonas Rosa.

Até mesmo a direção da Funai sabe, há tempos, sobre a intensa imigração de índios paraguaios para o Brasil. Um relatório feito pela administração executiva da instituição em Amambai, no sudoste de Mato Grosso do Sul, confirma que o problema se acentua na aldeia Guassuty, em Aral Moreira. "A comunidade vive com alguns problemas de brigas de família, por causa do consumo de bebidas alcoólicas, ocasionando alguns homicídios. Há suspeita de tráfico de entorpecentes, com a participação de indígenas paraguaios, bem como plantio de maconha no interior da terra indígena", diz o documento, obtido pelo Estado. (E.L.)

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