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Ibase sai do conselho para criação do ISE

GM, Finanças, p. B2
07 de Abr de 2005

Ibase sai do conselho para criação do ISE

A criação de um índice de empresas socialmente responsáveis para as ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), batizado de Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), tem mais implicações para o mercado do que a princípio sugere a idéia de valorizar as empresas com atuação politicamente correta.
Numa reunião tensa realizada, ontem, na Bovespa, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) - um dos membros do Conselho Deliberativo do ISE - decidiu deixar o órgão, depois que os outros membros decidiram votar contra a exclusão de empresas dos setores de tabaco, armas e bebidas da composição do novo índice. Além do instituto, estão no conselho: a associação dos fundos de pensão, Abrapp; a associação dos investidores do mercado de capitais, Apimec; associação dos bancos de investimentos, Anbid; o Ministério do Meio Ambiente e a Bovespa.
A decisão desagradou ao Ibase - que, junto com o ministério, votou a favor da exclusão - e seus representantes decidiram retirar-se do conselho. O diretor do Ibase, João Sucupira, justificou sua decisão afirmando que "não se faz omelete sem quebrar ovos". Segundo ele, a decisão do conselho contrariou o próprio conceito de responsabilidade social e foi tomada por pressão de grandes indústrias, como a Souza Cruz e a AmBev.
Em comunicado à imprensa, o conselho informou que "todas as empresas listadas em bolsa serão avaliadas segundo os mesmos critérios de sustentabilidade, não havendo, portanto, a exclusão prévia de nenhum setor econômico. Isto não significa, porém, que a participação de alguma empresa esteja automaticamente garantida na composição do índice".
Conforme o comunicado, serão analisadas as práticas de sustentabilidade, incluindo, o impacto de seus produtos e serviços sobre a sociedade. A questão tem aspectos delicados, que de certa forma justificam a cautela na avaliação das empresas, implícita no comunicado do conselho.
No caso de Souza Cruz, por exemplo, considerada de atuação correta em política social e de distribuição de dividendos, até que ponto seria justo que fosse penalizada pelo seu produto final? Além disso, ela fabrica cigarro usando outros insumos, como papel. As empresas desse setor também deveriam ser excluídas? Essas são algumas das inúmeras questões que precisam ser respondidas para a elaboração dos critérios para a criação do ISE.
Índices de empresas socialmente responsáveis têm sido criados em vários países europeus e também nos Estados Unidos, Austrália e Israel. O Brasil não quer ficar de fora porque a crescente preocupação com o meio ambiente e com a responsabilidade social das empresas - num momento em que se convive com uma redução do papel do Estado nessa função - tem levado investidores a privilegiar aquelas que atendem a pré-requisitos que respeitem o verde e o humano.

GM, 07/04/2005, Finanças, p. B2

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