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Ibama quer usar mogno nas carteiras escolares

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: Sandra Sato
13 de Jan de 2002

Novo presidente do instituto planeja dar esse destino à madeira ilegal apreendida

Marcus Luiz Barroso Barros sugere monitoramento por satélite para controlar extração de madeira

Há uma semana no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o médico Marcus Luiz Barroso Barros planeja usar mogno apreendida na construção de carteiras escolares do programa Fome Zero. Barros deixou a presidência do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) para ocupar a do Ibama. Ele foi um dos responsáveis pela adaptação da pentamedina para o tratamento de pacientes com leishmaniose. A droga antes era aplicada no combate de um oportunista que ataca o pulmão de pessoas imunodeprimidas. Em entrevista ao Estado, ele conta como seus planos.

Estado - Como um médico, que sempre atendeu excluídos, atuará na área de ambiente?

Marcus Luiz Barroso Barros - A exclusão se dá também pela degradação ambiental. Eu sempre lidei numa área chamada saúde e ambiente. Meus trabalhos são ligados à degradação ambiental gerando doença. Agora, tenho de lutar para que saúde seja resultado da preservação ambiental.

Estado - O governo anterior suspendeu a exploração do mogno. O senhor manterá essa "moratória"?

Barros - Se possível sim. A legislação só permite que se retire o mogno fora de áreas indígenas. E, hoje, o mogno está praticamente restrito a essas áreas e às de proteção ambiental.

Estado - O Ibama não conseguiu concluir levantamento sobre o estoque de mogno: se a madeira tinha saído de áreas legais ou ilegais.

Barros - Esse é o gargalo. Vou defender a transformação de parte do mogno ilegal apreendido em carteiras escolares para escolas que serão construídas por onde passar o programa Fome Zero. Vamos fabricar as carteiras com o Sebrae. Minha intenção é manter o uso de outras madeiras não tão nobres em construção de casas populares.

Estado - Há alguma política para a mata atlântica, onde empreendimentos imobiliários ameaçam áreas remanescentes?

Barros - A mata atlântica é intocável. Não tem mais o que derrubar. Vou marcar de perto isso. Serei obsessivo em relação a licenças. Ao invés de se pensar em desmatamento, há que se pensar em reflorestamento com base científica.

Estado - Em 500 anos de história do País, só 7% da cobertura original da mata atlântica sobreviveu. É fantasia ou realidade afirmar que o mesmo pode acontecer com a Amazônia?

Barros - Será verdade, se não houver estratégia de manejo. A mata atlântica sofreu corte raso para plantio de cacau e café, para o extrativismo do pau-brasil. A realidade técnica atual é diferente. Se juntar a realidade técnica com a política, conseguiremos manejar ao invés de depredar.

Estado - Mas, hoje, as madeireiras fazem o corte raso na Amazônia.

Barros - Vamos conversar à exaustão, aconselhá-las a fazer manejo, um pouco mais caro, mas trará lucros e empregos. Se não tiver consenso, a lei virá firme: prendendo, apreendendo e multando. Porém, isso não pode vir a priori, de maneira autoritária e leviana. Ninguém pode esquecer que há empresários dignos que querem viver na legalidade e manter a extração de produtos das florestas. Quem não quiser atuar dentro desses parâmetros que escolha outras atividades, não lide com o meio ambiente.

Estado - Como o senhor pretende frear o desmatamento na Amazônia?

Barros - Com fiscalização efetiva e controle social. Precisamos sensibilizar a sociedade de que o ambiente é vital. Também vamos fazer uma grande parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para ter a exata noção da degradação ambiental e buscar financiamento externo para aprimorar a fiscalização. Nós controlamos, razoavelmente, o roubo de cargas no Brasil com radares nos caminhões. Poderíamos usar o mesmo sistema para o transporte de madeira.

Estado - O monitoramento por satélite dos caminhões com carga era de interesse das empresas. Não é o caso das madeireiras ilegais.

Barros - Nós condicionaremos as licenças para exploração à adoção dessa estrutura. Quem não tiver a estrutura, vai pagar multa expressiva.

Estado - As guias de autorização de transportes florestais serão extintas?

Barros - Tenho de ser justo com a administração que saiu. Já se bolou um esquema para substituir os papéis por operações online. As guias deixarão de correr na mão de centenas de funcionários, o que facilitava atos ilícitos. A falta de ética de alguns poucos servidores será contornada por esses métodos.

Estado - Um jornal de grande circulação publicou entrevista com o senhor afirmando que abriria a caixa-preta do Sivam. O que significa isso?

Barros - Jamais falei em caixa-preta. Achei esquisito, primeiro porque nada conheço do Sivam. Conheço o Sipam, que é o lado civil do projeto. O Ibama tem cooperação bastante efetiva com o Sipam.

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