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Ibama quer barrar plano de resorts em Angra

OESP, Geral, p. A15
27 de Nov de 2003

Ibama quer barrar plano de resorts em Angra
Projeto do município prevê construção de hotéis e shopping em área de preservação

Roberta Pennafort

RIO - O Ibama pretende barrar na Justiça o novo plano diretor de Angra dos Reis, que prevê construção de hotéis, marina, shopping e restaurantes em área de preservação ambiental. O projeto visa a fomentar o turismo na Ilha Grande, paraíso ecológico amparado por leis federais, estaduais e municipais.
Um dos lugares onde podem ser construídos empreendimentos para receber visitantes é a Praia de Dois Rios, localizada dentro do Parque Estadual da Ilha Grande. A vila abriga as ruínas do antigo presídio. Na região, onde há remanescentes de mata atlântica e a natureza ainda é intocada, não são permitidas construções que não sejam casas da pescadores.
O plano diz que a praia é "ZIT (Zona de Interesse Turístico) 4", o que significa que serve para "turismo de grande porte". As ZITs 4 têm "área construída de mais de mil metros quadrados, taxa de ocupação de 75% e coeficiente de aproveitamento igual a 3", de acordo com o texto.
A chefe regional do Ibama, Sylvia Chada, está atenta. "Além de construir em lugares proibidos, o projeto prevê a transformação de áreas rurais em urbanas, o que também põe a natureza em risco, já que muitas ficam no entorno de áreas preservadas, protegendo-as. Isso é ilegal, um absurdo."
Caso seja aprovado na Câmara Municipal de Angra, o plano de criar resorts e parques temáticos na ilha será contestado na Justiça, garante Sylvia.
Pesquisa - Além de ser área de preservação, o terreno da vila foi cedido pelo Estado à Universidade do Estado do Rio (Uerj) por 50 anos, para pesquisas. A universidade, que está na ilha desde 1994 e mantém um campus onde são desenvolvidos hoje 40 projetos, não foi consultada. Só tomou conhecimento dos itens, porque uma professora assistiu, por acaso, à apresentação das propostas à comunidade, no dia 23 de agosto, na Vila do Abraão.
A instituição enviou carta à prefeitura no dia 30, assinada pela reitora, Nilcéa Freire, e por pesquisadores do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), em que se posiciona contra as idéias.
"Tal proposta é, no mínimo, surpeendente e corresponde a leiloar o quintal do vizinho", diz a carta. Em resposta, a administração municipal informou que são propostas e nada foi aprovado ainda.
Ao Estado, o secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Angra, José Luiz Zaganelli, negou que a prefeitura vá degradar áreas protegidas. "É lógico que não há risco para o ambiente. Sou um ambientalista", disse Zaganelli.
"Estamos abertos a críticas e sugestões. Nada será feito às pressas. Já fizemos um monte de reuniões com a comunidade e poderemos fazer muitas outras." O secretário afirmou ainda desconhecer que o projeto preveja construção de hotéis na Praia dos Dois Rios.
O plano é uma revisão do modelo de 1992. Os itens ainda serão discutidos na Câmara de Angra, cuja maioria vota com o prefeito Fernando Jordão (PMDB) - que, por sua vez, é aliado político da governadora Rosinha Matheus (PMDB).
Ivan Neves, da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sape), que luta contra construções em áreas proibidas, teme que o interesse político e a especulação imobiliária continuem provocando a degradação da região. "O prefeito ignora a legislação e alega que o município tem o direito de legislar sobre a ocupação do solo. Se não ficarmos atentos, ele pode aprovar o plano na calada da noite."

OESP, 27/11/2003, Geral, p. A15

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