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Ibama estima mais de 50 mil hectares de florestas grilados para plantio de soja na Amazônia

O Rio Branco-Rio Branco-AC
Autor: Ana Sales
10 de Ago de 2004

Expansão da fronteira agrícola objetivando o plantio de soja é a proposta dos invasores das terras públicas localizadas na região denominada "Ponta do Abunã", envolvendo os estados do Acre, Rondônia e Amazonas, responsáveis pelo desmatamentos de grandes áreas de florestas. O gerente executivo do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama/AC), Anselmo Forneck, informou que a área vinha sendo considerada terra de ninguém e que, nos últimos anos, cerca de 50 mil hectares de floresta já foram devastados.

Empresários da região Centro-Sul do país e dos estados de Goiás, Acre, Rondônia e Amazonas vinham promovendo uma devastação pesada no local, sem respeitar terras da União nem a legislação ambiental. "É devastação pesada. Uma só área media 9 quilômetros por 1,5 quilômetro. O menor desmatamento tem mais de mil hectares. Em quatro acampamentos que fiscalizamos havia estrutura para 150 homens. Esse número de pessoas com uma motosserra na mão, derrubando, é uma situação realmente assustadora". Forneck afirmou que 90% dos desmatamentos são grilagem de terras pertencentes à União. A estratégia é entrar com maquinário pesado, rasgando a floresta, retirando inicialmente a madeira. Para não chamar a atenção da fiscalização, os desmatamentos "são feitos na marra. Eles não brocam, não fazem aceiro e queimam às pressas, de qualquer jeito, sem respeitar área de preservação, castanheiras ou seringueiras". Depois da floresta queimada, o capim é semeado, também às pressas, com a semente jogada de avião.

Forneck explicou que se trata de uma estratégia para exploração de pecuária extensiva enquanto o grileiro busca regularizar documentos da sua suposta "fazenda". No prazo de cinco anos, a área é transformada em plantio de soja. Nas fiscalizações realizadas nos últimos dias, Forneck disse que foi possível evitar que uma extensão de 5 mil hectares fossem devastados. "Apesar da madeira ter sido retirada, foi um grande avanço termos conseguido nos antecipar aos desmatamentos". Ele atribui o sucesso da incursão à estrutura do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento e às Queimadas. Além do Ibama, o Ministério Público Federal (MPF), Pelotão Florestal da Polícia Militar do Amazonas, Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia (Sivan), Agência Brasileira de Informação (Abin) e o Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra) participam das fiscalizações, que contam com um efetivo de mais de 60 pessoas.

Recolher todo material
encontrado e interditar a área

Tratores, motosserras, munição, armas, documentação, ferramentas, caminhões, motor gerador de luz, combustível e outros maquinários encontrados nas áreas fiscalizadas foram todos recolhidos ao pátio do Ibama, na Extrema. "Trata de uma operação pente fino e não mais como fazíamos, de forma pontual em anos anteriores, quando, mal a equipe de fiscalização saía da área, os desmatamentos prosseguiam".

Todas as áreas fiscalizadas ficarão interditadas para que o governo tenha tempo hábil de dar uma destinação adequada para a região. "Certamente será criada uma área de preservação em toda a extensão de terras da 'ponta do Abunã' como forma de evitar, definitivamente, a grilagem e devastação do local". Forneck informou que efetivos da Polícia Federal deverão se juntar à fiscalização. "Como estão tratando a área como terra de ninguém, é necessário entrar no local como se faz no enfrentamento para bandidos".

Forneck avalia que, entre o resultado positivo alcançado, a presença de representantes do Ministério Público Federal e do Trabalho no local das fiscalizações foi muito importante para tomarem conhecimento de causa e saberem como julgar os processos sobre a grilagem na Amazônia.

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