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Ianomamis denunciam abandono e corrupção no Amazonas

Amazonia.org.br
25 de Abr de 2007

IBDS é acusado de desvio de recursos e corpo de jovem indígena foi devolvido aos familiares sem os braços, olhos e com a barriga aberta

Indígenas da etnia ianomami que vivem em oito aldeias no Norte do Estado do Amazonas acusam o Instituto Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário (IBDS) de uso indevido de verbas para a saúde, desvio de recursos e negligência no acompanhamento dos pacientes. O IBDS é conveniado da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e é subordinado à coordenação de Roraima. Ele é responsável pelo acompanhamento e remoção de indígenas para tratamento de saúde que vivem nas oito áreas do Amazonas, em região próxima a São Gabriel da Cachoeira, na divisa com Roraima, além da folha de pagamento dos funcionários.

De acordo com o presidente da Associação Ianomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca), Armindo Melo, da aldeia Maturacá, onde vivem cerca de mil ianomami, o IBDS aplica os recursos destinados à saúde indígena na compra de materiais não utilizados pelos indígenas. Há casos em que funcionários pagam suas refeições com recurso exclusivamente destinado à saúde indígena. Várias notas fiscais que Armindo Melo teve acesso comprovam gastos com aquisição de objetos pessoais, móveis e eletrodomésticos, em compras que vão desde churrasco a colchão de casal, mobília residencial completa, antena parabólica, ar condicionado e uma suíte no valor de R$ 700.

A Ayrca também questiona a existência de várias notas fiscais de compra de óleo diesel sem a descrição da origem e a destinação da embarcação, o que coloca em suspeita a aplicação dos recursos. Munido das notas fiscais com assinatura do presidente do IBDS, Cleyton Carvalho, Armindo formalizou ontem, na sede da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), denúncia contra a entidade conveniada junto à presidência da Funasa, em Brasília, Ministério Público Federal do Amazonas e de Roraima e Ministério da Saúde. Armindo Melo viajou até Manaus para receber apoio da Coiab e formalizar a denúncia. Ele permanecerá em Manaus até a quinta-feira.

Doenças e negligência
Os yanomami das áreas localizadas no território amazonense (a maioria da população dessa etnia vive em Roraima) sofrem com falta de medicamentos e precariedade nos postos de saúde que atendem os indígenas. Também não há material suficiente para os técnicos e enfermeiros trabalharem, segundo Armindo Melo. As doenças que mais afetam os yanomami são malária e tuberculose.

A decisão de denunciar o IBDS à Funasa, Ministério Público Federal e Ministério da Saúde surgiu a partir de reuniões realizadas em todas as aldeias atendidas pela conveniada. De acordo com vários documentos elaborados pelas lideranças indígenas das áreas, a Funasa também está recebendo a planilha errada da IBDS - para o caso de haver fiscalização dos recursos - e os indígenas estão se sentido enganados, manipulados e desrespeitados.

Os indígenas das oito áreas (Maturacá, Ariabú, União, Nossa Senhora Auxiliadora, Ibambú, Nazaré, Tamaquaré e Maiá) também exigem a saída imediata do IBDS do convênio com a Funasa, cujo contrato encerra em dezembro deste ano. Eles afirmam que, além dos desvios, os funcionários da entidade maltratam os pacientes indígenas e não fazem o acompanhamento devido dos doentes, especialmente quando eles são removidos para tratamento em Manaus.

Um caso que revoltou os yanomami envolveu um rapaz da aldeia Maiá, que levou um tiro no peito e veio para tratamento em Manaus. Não se teve notícias se ele contou com acompanhamento de enfermeiro, nem em qual hospital teria sido internado. O rapaz faleceu e seu corpo foi removido para a aldeia. Quando os familiares abriram o caixão, o corpo estava sem os dois braços, os dois olhos e a barriga aberta. A visão do corpo naquele estado causou comoção, mas o IBDS nunca explicou o motivo.

O próprio Armindo viveu uma situação semelhante de negligência. Em outubro do ano passado, ele fez sozinho todo o acompanhamento do pai que foi fazer cirurgia na vesícula no Hospital João Lúcio, em Manaus. A enfermeira encarregada de acompanhar o paciente veio com os dois na viagem, mas no dia seguinte retornou à sede do IBDS sem dar explicações sobre a doença do paciente aos profissionais do hospital.

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