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Ianomamis armados: garimpeiros dão espingardas e revolveres aos índios

A Crítica, Cidades, p. C1
27 de Dez de 2003

Ianomâmi armados
Funai, Ibama e Policia Federal estão na reserva para desarmar os índios antes que o clima entre a etnia fique mais tenso

Gerson Severo Dantas

Os garimpeiros que atuam ilegalmente na reserva dos índios Ianomâmis estão distribuindo armas de fogo e "semeando a discórdia" entre os integrantes da etnia. A denúncia é do administrador da Fundação Nacional do índio (Funai) em Boa Vista (RR), Martinho Alves. A distribuição de revólveres e espingardas visa desunir os diferentes grupos de Ianomâmis e facilitar a garimpagem nas terras da reserva, que se estendem por uma área de 9 milhões de hectares, sendo 3,8 milhões no Amazonas. "Vamos iniciar um trabalho para desarmar os índios, dando-lhes equipamentos e materiais como machado, facões, terçado e sementes, em troca das armas", disse Martinho Alves em entrevista ao jornal Folha de Boa Vista.

O administrador da Funai no Amazonas, Benedito Rangel, diz que a introdução de armas de fogo nas comunidades indígenas compromete o equilíbrio social tradicional, pois em momentos de conflitos os grupos armados estarão na vantagem. "Agora o conflito não é mais resolvido com arco e flecha", diz Rangel
.
A falta de habilidade para manusear espingardas já causou, pelo menos, duas vítimas, conforme o site da Funai na Internet. No primeiro um índio abriu fogo contra um amigo, que sobreviveu por ter recebido atendimento médico imediato. Na aldeia Urihi, um agente de saúde morreu após receber um tiro acidental disparado por um índio.

Operação

A Funai estima que 200 garimpeiros invadam regularmente a reserva Ianomâmi em busca de ouro. Para combater esse contingente, a fundação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Polícia Federal (PF) realizaram de 7 a 23 deste mês uma operação de fiscalização que culminou com a expulsão de, pelo menos, 50 garimpeiros e a explosão de quatro pistas de pouso clandestinas, bem como a destruição de acampamentos, ranchos e pequenas plantações. Duas pistas clandestinas de difícil acesso ficaram inteiras, mas deverão ser destruídas em janeiro.

A operação, conforme Benedito Rangel, aconteceu basicamente em terras de Roraima, pois a atividade garimpeira na parte amazonense da reserva é quase insignificante. "Tem alguns em São Gabriel da Cachoeira, mas é um problema muito localizado e de fácil solução.

0 grosso do problema é em Roraima, onde os garimpeiros montam pisa tas de pouso clandestina", diz, acrescentando que em paralelo a atividade garimpeira acontecem., um sem número de crimes contra a ordem jurídica do País. "Essa atividade só traz mazelas, tanto sociais quanto ambientais", avalia.

Dentre as mazelas sociais, Rangel destaca o assedio sexual das índias e o já citado desequilíbrio entre os grupos. Por trás disso vem ainda problemas como a poluição de igarapés e rios por mercúrio, produto químico usado na garimpagem; tráfico de drogas e evasão de riquezas. "já tiraram R$ 6 milhões em ouro das terras Ianomâmis, mas quanto disso ficou para o índio, para o Estado de Roraima e a União na forma de imposto? 'Nada", afirma Rangel.

Os Ianomâmis são um dos grupos indígenas mais antigos da Amazônia. São nômades e por conta disso capazes de desmontar uma aldeia inteira e transferi-la de lugar em poucos dias. No Amazonas suas terras ocupam áreas dos municípios de Barcelos, Santa Izabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. No total, a Funai estima que os Ianomâmis sejam hoje 14 mil indivíduos.

A Crítica, 27/12/2003, Cidades, p. C1

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