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Humanidade está em débito com planeta

O Globo, Ciência, p. 34
29 de Out de 2008

Humanidade está em débito com planeta
Consumo de recursos naturais excede em 30% capacidade de recuperação

Carlos Albuquerque

O mundo não é o bastante. O título de um dos filmes de James Bond cai como uma luva nos prognósticos ambientais para o futuro da Humanidade.
Segundo o relatório "Planeta vivo 2008", divulgado ontem pelo WWF, nosso consumo dos recursos naturais já excede em 30 por cento a capacidade de o planeta se regenerar. Se mantivermos o ritmo atual, somado ao crescimento populacional, em torno de 2030 precisaríamos de mais dois planetas para nos mantermos.

- Essa é a chamada pegada ecológica, o registro da pressão humana sobre o planeta e seus recursos naturais- explica Irineu Tamaio, coordenador do Programa de Educação para Sociedades Sustentáveis do WWF-Brasil. - O relatório mostra que o consumo desses recursos está num ritmo tão acelerado que, se for mantido, em breve precisaremos de dois planetas para atender a essa demanda. O cálculo foi feito em torno da capacidade de o planeta recuperar esse recursos e também o potencial de absorção dos resíduos que deixamos, que vão do lixo à emissão de CO2 na atmosfera.

A sétima edição do estudo faz uma analogia entre a crise econômica mundial e os problemas ambientais, dividindo os países entre credores e devedores ecológicos, baseado na relação entre o seu consumo e seus recursos naturias. O Brasil aparece como um credor ecológico.

- O estudo revela que somos um país credor, já que temos riquezas naturais muito grandes, que superam nossa pressão sobre o ambiente. Só que estamos enfrentando um processo de devastação igualmente grande - revela Tamaio. - Os Estados Unidos, que são considerados devedores, também têm extensos recursos naturais, mas seu consumo já excede suas riquezas.

Como alerta Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil, assim como a bolha financeira mundial gerou a crise atual, "o consumo desenfreado dos recursos naturais pode gerar uma nova crise".

- A diferença é que, numa crise econômica, podemos recuperar os valores. Mas numa crise ecológica, como a que está sendo desenhada, não poderemos recuperar espécies extintas, por exemplo - afirma Carlos Alberto de Mattos Scaramuza, superintendente de Conservação de Programas Temáticos do WWF-Brasil.
Redução de 30% na biodiversidade nos últimos 35 anos
Segundo o estudo, as populações mundiais de aves, peixes e mamíferos tiveram uma redução de quase 30% nos últimos 35 anos. Para chegar a esse valores, os responsáveis pelo relatório criaram o Índice Planeta Vivo, que analisa o estado dos ecossistemas da Terra.

- Esses indicadores mostram uma tendência muito alta de perda de biodiversidade, principalmente nas áreas tropicais, como o Brasil - explica Tamaio.

Entre os motivos apontados para essa perda de biodiversidade estão poluição, perda de habitat, sobrepesca e caça, espécies invasoras e mudanças climáticas.

- No caso do Brasil, a perda de habitat, com a conversão desordenada de terras para a agricultura, pode ser considerada um dos principais fatores de desequilíbrio - alerta Tamaio.

Mas o relatório também apresenta soluções e luzes no fim do túnel.

- Assim como a crise econômica está mostrando que o livre mercado não resolve tudo, precisamos de alguma regulação - diz Scaramuza. - Precisamos de um novo acordo, para reduzir nossas pegadas ecológicas, gerando um modelo de crescimento que leve em conta que o planeta tem limites.

O Globo, 29/10/2008, Ciência, p. 34

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