VOLTAR

Horizonte claro com Proalcool

JB, Economia, p.A19
14 de Nov de 2005

Horizonte claro com Proálcool
Trinta anos após lançamento, programa cria cenário vantajoso para Brasil no mercado de combustíveis
Isabel Dias de Aguiar
Os números são controversos, mas, três décadas depois, pesados os custos econômicos e sociais e os ganhos proporcionados pelo Proálcool (lançado em 14 de novembro de 1975, sob a gestão do então presidente Ernesto Geisel), a conclusão é que o país lucrou. Os investimentos, embora tenham sido praticamente doados aos usineiros para que ampliassem suas indústrias, permitiram o surgimento de uma vigorosa capacidade produtiva e o domínio de uma tecnologia que o mundo tenta copiar. E as previsões de especialistas são que, à medida que crescem as preocupações ambientais, essa infra-estrutura terá de avançar ainda mais: será necessário ampliar lavouras em mais de 50% e investir R$ 30 bilhões na expansão e modernização de usinas para moer 600 milhões de toneladas de cana, para atender a demanda que sinaliza surgir.
Quanto aos ganhos proporcionados pelo Proálcool - cujo lançamento completa 30 anos hoje, a cifra mais aceita são os US$ 44 bilhões que o Brasil deixou de gastar desde que o Proálcool foi criado, valor mencionado na semana passada pela ministra Dilma Rousseff. Para ela, significa o total de divisas economizadas pelo Brasil nas últimas três décadas.
Para os especialistas, o Proálcool representou mais do que isso, já que, nesse período, o país teria deixado de queimar 300 bilhões de litros de gasolina e, com isso, poupado a atmosfera com a emissão de carbono em volume proporcional.
O cálculo sobre a preservação do meio ambiente foi feito pelo diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Angelo Bressan, para quem a questão ambiental é mais importante do que a econômica.
- Cada vez que produzimos energia renovável, estamos contribuindo para deixar no subsolo um volume expressivo de carbono, ao evitar a extração de petróleo - afirmou.
O efeito disso, segundo afirmou, é multiplicado porque as lavouras de cana absorvem carbono da atmosfera para realizar a fotossíntese.
A questão ambiental é o principal argumento para enaltecer o Proálcool. Depois de extinto em 1990, no governo Collor, pouco sobrou do modelo do Programa Nacional do Álcool em termos de política pública. De fortemente regulada pelo governo, a produção de cana, álcool e açúcar passou a uma extrema liberdade, o que deixou usineiros desorientados. Acostumados a seguir normas ditadas por Brasília, a maioria teve de desenvolver aptidão para negociar de acordo com a livre economia.
O objetivo inicial era poupar divisas. Na ocasião, o preço do barril do petróleo ultrapassava os US$ 40, o que, em valores de hoje corresponde a US$ 90. A idéia de substituir a gasolina pelo álcool tem pelo menos o dobro da idade do programa. Foi idealizado na década de 30 para substituir pelo menos 2% da gasolina do país durante a 2ª Guerra Mundial, quando o combustível era caro e escasso.
Mas o álcool combustível ganhou força no mercado quando as questões ambientais e a escassez de petróleo tornaram-se reais motivos de preocupação. Para José Goldemberg, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e atual secretário de Meio Ambiente de São Paulo, não é a oferta nem o preço do petróleo que determinará o futuro do mercado de álcool. Goldemberg acredita que, se a origem da onda de furacões no Caribe e no sul dos Estados Unidos for mesmo o aquecimento global, o petróleo perderá terreno no mercado, abrindo imenso espaço para o álcool combustível.
Segundo o usineiro Roberto Rezende Barbosa, da usina Nova América, o papel do Proálcool nesse processo foi preparar o país, com uma inédita margem de vantagem, para atender o imenso mercado que se forma.

JB, 14/11/2005, p. A19

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.