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Homenagem a Galdino

CB, Cidades, p. 26
19 de Abr de 2007

Homenagem a Galdino
Cerca de 400 representantes de povos indígenas promoveram manifestação para lembrar os 10 anos do assassinato do líder pataxó

Guilherme Goulart
Da equipe do Correio

A poucos dias de completar os 10 anos da morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, representantes de povos indígenas de todo o país tomaram as ruas de Brasília para lembrar a barbárie ocorrida na capital. Cerca de 400 pessoas - a maioria com o rosto pintado - levantaram cartazes e entoaram gritos de guerra em referência à madrugada em que Galdino teve o corpo queimado enquanto dormia na parada de ônibus da 703 Sul. Dois sobrinhos da vítima participaram da manifestação, que por mais de três horas prestou homenagem ao líder pataxó assassinado em 21 de abril de 1997.

O protesto começou às 15h em frente ao Ministério da Justiça. Mesmo debaixo de chuva, o grupo ocupou três das seis faixas do Eixo Monumental e iniciou a marcha rumo à Praça do Compromisso, na 703 Sul. Lideranças nacionais relembraram os nomes de índios mortos em disputas territoriais durante o trajeto. "Nós estamos morrendo antes das demarcações territoriais. No caso do Galdino, ele estava em Brasília para resolver o problema da tribo dele no sul da Bahia", afirmou Jessinaldo Saterê Mave, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Os manifestantes alcançaram o início da Asa Sul por volta das 17h. Aglomeraram-se ao redor do Monumento a Galdino, obra feita em bronze pelo artista plástico goiano Siron Franco. O local serviu de palco para dança, emoção e protesto. Em sinal de luto, os índios pintaram de tinta preta o contorno da imagem cravada no centro da praça. Alguns depositaram flores e homenagearam o pataxó assassinado em Brasília. Entre eles, dois sobrinhos de Galdino: Cesar Procotoa Aritiwe, 19 anos, e Hariã Nunes de Souza, 18.

Os primos vieram a Brasília para representar a família do pataxó. O pai de Galdino, Juvenal Rodrigues dos Santos, morreu no fim do ano passado. E a mãe, Minervina Jesus dos Santos, de 78 anos, está com a saúde debilitada. "Ela viria, mas piorou muito nos últimos tempos, ainda mais com a aproximação da data da morte do filho. O pai morreu de desgosto por causa da falta de Justiça no caso", disse Hariã. A cacique da tribo, Marilene Jesus dos Santos, irmã de Galdino, ficou na aldeia para cuidar dos preparativos de outra manifestação em memória do líder morto.

Pressão
O ato em homenagem a Galdino faz parte da programação do Acampamento Terra Livre. Cerca de mil integrantes de 102 etnias estão acampados na Esplanada dos Ministérios desde segunda-feira. Eles estão em Brasília para cobrar do governo a demarcação de 270 áreas indígenas no Brasil. Também protestam contra a morte de 257 índios desde 1997, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O pataxó Galdino Jesus dos Santos teve 95% do corpo queimado depois de ser atacado por cinco jovens - um deles menor de idade - em uma parada de ônibus. Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves de Oliveira, Max Rogério Alves e Antônio Novely Vilanova acabaram condenados a 14 anos de prisão. Mas todos conseguiram a liberdade condicional no fim de 2004, mesmo depois de três deles desrespeitarem autorização judicial de saída temporária da prisão para atividades externas. Eles aproveitavam os intervalos das obrigações para tomar cerveja, namorar e encontrar amigos.

CB, 18/04/2007, Cidades, p. 26

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