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Hidrovia Araguaia-Tocantins vai afetar 13,3 mil índios no rio Araguaia

Diário de Cuiabá-MT
09 de Nov de 2001

Cerca de 13,3 mil índios de onze grupos poderão ser afetados direta e indiretamente com a construção da Hidrovia Araguaia-Tocantins. Os principais atingidos são os grupos que vivem na beira do rio: tapirapés, karajás e xavantes. A análise faz parte do livro "Um olhar indígena e popular sobre a hidrovia Araguaia-Tocantins", organizado pelo deputado estadual Gilney Vianna e lançado ontem na Assembléia Legislativa (AL).
O livro reúne posicionamentos públicos de representantes de povos indígenas, principalmente das aldeias mais atingidas, contra a construção da hidrovia. "Tem que fazer BR de estrada e não abrir o rio", afirmou o representante dos xavantes, Augusto Werehipe, ontem durante o lançamento. Dos 10 milhões de toneladas de soja produzidos nos Estado, apenas 150 mil são transportados via hidrovia. As entidades indigenistas sustentam que o dinheiro da construção seria melhor aplicado em empreendimentos como a melhoria das rodovias já existentes (BR-158 e BR-242), já que a maioria da produção é transportada pelas estradas.
"O problema é o estrago para os ribeirinhos, índios, que vão perder o seu santuário que é o Araguaia", disse o presidente do Grupo de Trabalho Missionário Evangélico (GTME), Lúcio Flores, que também é índio do grupo terena. Ele reforça que o rio para os índios tem um significado muito maior do que fonte de alimentação e lazer. "O rio é um espaço sagrado, onde os pajés buscam orientação. O índio quer o rio como vida e não só como estrada", ressaltou.
O Estudo de Impacto Ambiental (Eia/Rima) detectou que os impactos sobre as comunidades indígenas de alta relevância seriam a pressão sobre as terras, redução da ofertas de alimentos e interferência nas condições e no modo de vida dos grupos.
A preocupação também é demonstrada na obra por ambientalistas, acadêmicos, moradores de cidades da região que se manifestaram em audiências públicas e através de documentos contra a construção da hidrovia. "Nós não somos contra o progresso. Mas, tem que se fazer um estudo coerente. O EIA/Rima não tem nada a ver com a realidade local", disse o vice-presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), da seccional de Canabrava do Norte, Luiz César Barbosa.
Segundo Barbosa, os canais criados para passagem das barcaças no rio das Mortes e Araguaia vão afetar toda a bacia hidrográfica. "A drenagem das águas vai para o canal principal. A seca que é de seis meses vai passar para nove a 10 meses", explicou. Uma das propostas de viabilidade econômica da hidrovia para região é estimular a lavoura de grãos para exportação. "O solo tem acidez. Não tem estrutura para produção de soja, algodão em larga escala", afirmou. De acordo com Barbosa, estudos técnicos comprovam que o lençol freático é poroso, dando condições de uma produção regular dessas espécies por apenas quatro anos. "Temos pensar num desenvolvimento que beneficie as gerações futuras", destacou.
da Reportagem

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