O Globo, Negócios & Cia, p. 36
Autor: OLIVEIRA, Flávia
05 de Out de 2010
Herança eleitoral de Marina
Flávia Oliveira
Os 19 milhões de votos de Marina Silva na primeiro turno das eleições alimentaram as esperanças do eleitorado de ver a agenda do desenvolvimento sustentável colorir os programas de Dilma Rousseff e José Serra.
É mais desejo que certeza, admitem observadores do processo político. André Urani, presidente do Iets, diz que a senadora propôs um olhar diferente para o tema do desenvolvimento de longo prazo, num processo semelhante ao de Fernando Henrique com a estabilidade econômica e ao de Lula com a redistribuição de renda e redução da desigualdade. "Seria bom se esse novo olhar fosse incorporado pelos candidatos que vão disputar o segundo turno. Acho que Dilma e Serra não vão deixar de falar de sustentabilidade na campanha, mas essa agenda não vira convicção em uma semana", completa. Pedro Cavalcanti Ferreira, da FGV, tem pensamento parecido. No lado macroeconômico - o tripé câmbio fluente, metas de inflação e superávit primário - os três candidatos têm posições pouco divergentes. "Acho que a questão das políticas sociais também foi bem absorvida. Mas vejo Dilma e Serra com uma visão muito 'cinquentista' de desenvolvimento. Há muita ênfase na industrialização, coisa que não estava no centro da política de Marina", diz Ferreira.
O projeto que o economista gostaria de ver no programa da futura ou do futuro presidente é a reflexão sobre o custo do crescimento: "Houve um tempo em que o preço era a desigualdade. Hoje, temos de considerar se vale crescer a qualquer custo, ignorando a questão ambiental".
O Globo, 05/10/2010, Negócios & Cia, p. 36
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