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Guardiões da floresta

Istoé-São Paulo-SP
Autor: Antônia Márcia Vale
21 de Jul de 2002

Aviões com escuta, sensores e radares climáticos abastecem a rede de dados que controla uma área do tamanho da Europa

A rede do Sivam: onde estãoas Unidades de Vigilância

Escudo protetor: o Sistema de Vigilância da Amazônia

Mercado por controvérsia e denúncias de fraude desde sua origem, em 1990, o Sistema de Vigilância Aérea da Amazônia revela uma nova e preciosa face. Mais do que fiscalizar o território de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, área maior do que a da Europa Ocidental, o Sivam oferece aos cientistas brasileiros acesso privilegiado aos segredos da floresta. A primeira fase do projeto de US$ 1,4 bilhão será inaugurada na quinta-feira 25, em Manaus, mas o trabalho de implantação já fez revelações importantes. Uma delas é o alto teor de acidez das chuvas, que em algumas áreas supera os índices da cidade paulista de Cubatão, uma das recordistas em poluição. O engenheiro Luiz Roberto Miranda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, notou a acidez excessiva quando protegia os equipamentos contra a ferrugem. Como o clima quente e seco não condizia com a corrosão tão voraz, os pesquisadores suspeitam que as queimadas sejam a causa da acidez. O resultado é que todas as estruturas foram protegidas com uma tinta especial, à base de zinco.

Outra revelação: certas regiões são bombardeadas por tempestades de raios. A proteção normal, com pára-raios e aterramento, não é suficiente para proteger os eletrônicos. Os aparelhos expostos ao ar livre e os prédios dos centros de controle foram construídos sobre malhas subterrâneas de cobre, para garantir a dispersão da descarga elétrica.
Para tirar proveito desse imenso banco de dados, o Instituto Nacional de Meteorologia recebeu um supercomputador que analisa as imagens de satélite. Em breve, ele vai processar também os relatórios dos radares meteorológicos, dos detetores de raios e das plataformas de coleta de informações (leia quadro). Esse aparato permitirá a identificação de situações climáticas específicas da região, algo antes impossível.

O sistema oferece ainda instrumentos para combater a devastação. As fotos do satélite americano Landsat 7, que demora 16 dias para dar uma volta na Terra, são hoje a principal ferramenta contra a destruição. É comum o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) receber fotos de áreas consumidas por queimadas que ocorreram nos intervalos da passagem do satélite. Com o Sivam, essas imagens serão produzidas por aviões equipados com radares e sensores da Força Aérea Brasileira. As aeronaves podem sobrevoar determinada área no instante em que ocorre um incêndio ou o corte ilegal de árvores. Para ter este tipo de flagrante hoje, o governo brasileiro precisaria pagar US$ 2 mil pela foto tirada por aviões canadenses. "O ideal seria que a estrutura do Sivam se espalhasse pelo País todo", diz Humberto Candeias, diretor do Ibama.

Narcotráfico - Os técnicos das Forças Armadas, da Polícia e da Receita Federal também aguardam ansiosamente o início da operação da rede de inteligência. O cruzamento de informações sobre o tráfego aéreo, as fotos de trechos desmatados e a interceptação de ondas de rádio podem indicar a localização de campos de pouso do narcotráfico, por exemplo. "O Sivam é a ponta-de-lança de uma proposta que, se bem dirigida, significa uma mudança da atuação governamental na Amazônia", avalia o tenente-coronel Paulo Esteves, que integra a direção do programa.

Essa é a primeira vez que um projeto federal abre as portas para ampliar o conhecimento sobre a floresta. Na década de 1970, quando os militares buscavam "povoar" a região, se abriu a rodovia Transamazônica, um dos vetores da devastação. Na década seguinte, a palavra de ordem era "defender" a mata, que seria pontilhada por instalações militares com o projeto Calha Norte. O Sivam não está livre de virar um elefante branco. A aparelhagem exige manutenção e atualização constantes e os funcionários precisam de qualificação permanente. O Sivam pode sucumbir se cair na rotina de cortes orçamentários da equipe econômica. Não é um temor infundado. Há pouco mais de uma semana, alguns vôos da região Sudeste atrasaram até duas horas em razão de uma pane num radar localizado no Espírito Santo. De tão obsoleta, a máquina ainda tem válvulas. E o governo nunca destinou recursos para trocá-la por uma versão mais moderna.

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