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Guarapiranga: riscos para a agua

OESP, Metropole, p.C6
13 de Dez de 2005

Guarapiranga: riscos para a água
Laura Diniz
O homem já invadiu 38% das áreas de preservação permanente (APPs) da Bacia de Guarapiranga, um dos principais reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo. A informação consta do Guarapiranga 2005 - Diagnóstico Socioambiental Participativo, lançado ontem pelo Instituto Socioambiental (ISA). Levando em conta que a bacia tem hoje 40% do seu tamanho original, a ocupação humana ganha dimensões ainda piores. "O mais preocupante é que isso não é novidade", disse a arquiteta Marussia Whately, coordenadora do Programa de Mananciais do ISA. O impacto direto é na qualidade da água, que está piorando. "No ponto de captação, onde deve haver a melhor água, a qualidade piorou nos últimos 15 anos, apesar do programa de recuperação da Bacia do Guarapiranga, que recebeu US$ 300 milhões de investimento", afirmou Marussia. A bacia de 639 quilômetros quadrados abastece cerca de 3,7 milhões de pessoas, o que representa 20% da população da região metropolitana.
Com a ampliação da presença do homem, o tamanho da represa - que ocupa 4% da bacia - diminuiu em 19% nos últimos 30 anos. Além disso, a quantidade de esgoto despejado aumentou.
Segundo o estudo, há cerca de 200 mil domicílios na bacia, cujo esgoto tem como destino, na maioria das vezes, os rios, córregos e demais afluentes da represa. "É uma área usada para produzir água que não tem saneamento. Por que tem que esperar financiamento externo? Por que não há uma política prioritária de governo?", questiona Marussia. "Estamos falando da água que quase 4 milhões de pessoas bebem. Até hoje não se tem perspectiva de quando começará o próximo programa de recuperação." Outra conseqüência da redução do volume e do aumento da sujeira na água é a elevação dos custos de tratamento por parte das concessionárias como Sabesp e Cetesb.
Segundo o planejador urbano e ambiental Renato Tagnin, professor do Centro Universitário Senac, os mananciais têm sido tratados pelos governos como áreas urbanas. "Ninguém assume diretamente o discurso de que não são áreas de preservação, mas na prática são tratadas como áreas urbanizadas."
Como a população pobre vai cada vez mais para a periferia, cresce a ocupação de áreas que deveriam ser preservadas. "Com as pessoas lá, vêm as propostas públicas de colocar água, luz e esgoto para lhes dar uma vida digna. Daí tem mais ocupação e é preciso dar infra-estrutura para os que vieram em seguida." Mas o importante, diz o professor, seria evitar a expansão e colocar em prática ações que remetessem a população para fora dos mananciais.
Rodoanel
0 trecho sul do Rodoanel é visto pelo ISA como um problema para a preservação da bacia. "A obra equivale a 12% da área da bacia. A região vai ser bastante afetada. 0 Rodoanel não pode passar por cima da qualidade da água", disse Marussia. Segundo ela, se deveria dar prioridade à qualidade da água e depois pensar sobre a obra, mas o governo faz o contrário.
0 gerente de gestão ambiental da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), José Fernando Bruno, discorda. "A sensação é que a pessoa não leu o estudo de impacto ambiental", disse. De acordo com ele, as obras não vão prejudicar, mas proteger a bacia. "0 Rio Embu-Mirim, principal contribuinte da represa, tem várzea degradada. 0 projeto propõe protegê-la", afirmou ele. "Estamos sugerindo a criação, num lugar chamado Jaceguava, de uma unidade de conservação grande para proteger mananciais em processo de degradação."
Bruno disse também que tramita na Assembléia Legislativa proposta do governo para criar uma agência metropolitana para o gerenciamento de,mananciais.

Números
19 % da represa diminuiu nos últimos 30 anos
20/0 da área da bacia corresponde a parques
1/3 dessa área é coberta por vegetação
12 % do território pode ser afetado por obras do trecho sul do Rodoanel
17 % do solo da bacia era de uso urbano em 2003
42% da bacia era ocupada por agricultura, mineração, áreas abandonadas, solos expostos e outros chamados usos antrópicos em 2003
23 sub-balas integram a área
766.810 pessoas moravam na batiam segundo o Censo do IBGE de 2000

OESP, 13/12/2005, p. C6

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