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Guaranis e caiuás se recusam a deixar área invadida em MS

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: HUDSON CORRÊA
21 de Jan de 2004

Índios e fazendeiros entram em confronto; 3 ficam feridos

Índios guaranis e caiuás enfrentam fazendeiros, que bloquearam estrada de acesso à área invadida

Cerca de 250 índios e 300 fazendeiros entraram em confronto ontem por volta das 12h (13h em Brasília), em Japorã (MS), a 464 km de Campo Grande. Houve pelo menos um disparo de arma de fogo. Um índio de 14 anos foi ferido de raspão na nuca, segundo lideranças indígenas e a Funai.
Outro índio levou uma pancada na cabeça com uma pá, enquanto um produtor rural teve o braço direito esfaqueado.
Os índios guaranis e caiuás invadiram 14 fazendas em Japorã desde dezembro. Dos cerca de 3.000 que entraram nas propriedades, mil ainda permanecem na área, conforme a Funai (Fundação Nacional do Índio). A Justiça determinou a desocupação das áreas. O prazo para saída dos índios terminou na terça-feira.
A Secretaria da Segurança Pública de MS e a Polícia Federal definiram ontem como será a operação para desocupar as áreas invadidas. A PF estima gastar pelo menos R$ 100 mil na ação, com combustível, diárias para 600 policiais, entre federais e militares, e peças para carros.
No início da tarde de ontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ainda acreditava em uma solução negociada. "A PF está negociando, 90% dos índios já desocuparam o local."

Confronto
Por volta das 10h de ontem, os produtores rurais se concentraram em uma ponte sobre o rio Iguatemi, a 3 km das fazendas invadidas. Eles protestaram contra a permanência dos índios nas propriedades. A estrada que dá acesso às áreas foi bloqueada.
O grupo teve apoio de comerciantes, trabalhadores de fazendas e moradores da cidade vizinha de Iguatemi. Por volta das 17h, quando acabou o protesto, o número de manifestantes chegava a 400, segundo o tenente da PM Natanael Bonato de Souza.
O confronto ocorreu quando produtores rurais colocaram fogo em uma área próxima à ponte. Segundo o produtor rural Geonides Ledesma Peixoto, 35, os índios pensaram que os fazendeiros poriam fogo nas fazendas para expulsá-los. Os guaranis e caiuás, incluindo crianças e mulheres, foram de encontro aos ruralistas.
Geones Miguel Ledesma, advogado dos fazendeiros que esteve no local, afirmou que os índios dispararam tiros para o alto. Em seguida, informou Ledesma, pelo menos um ruralista respondeu também com tiros para o alto.
Os índios estavam com espingardas e garruchas artesanais, além de flechas e pedaços de pau, enquanto entre os fazendeiros havia pelo menos um ruralista com um revólver calibre 22, disse Peixoto à Agência Folha. O delegado da Polícia Civil Elias Pereira Soares esteve no local do protesto, mas disse não ter encontrado armas com os ruralistas. A PM localizou uma cápsula de calibre 22 no chão onde ocorreu o confronto.
Após a chegada de seis policiais militares, os índios e fazendeiros ficaram distantes 200 metros, cada grupo de um lado da ponte.
Agente de saúde e uma das lideranças indígenas, Gumercindo Fernandes, 38, afirmou à Agência Folha que o índio Odeir Martins, 14, levou um tiro de raspão na nuca. Segundo ele, outros três índios levaram pancadas dos ruralistas.
Márcio Margatto, 32, que levou uma facada no braço direito, caiu no rio Iguatemi durante o confronto. Outro produtor rural que não sabia nadar também foi empurrado para o rio e resgatado. Margatto nega que houvesse armas entre os ruralistas.

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