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Guajá experimentam a poligamia

O Liberal -Belém - PA
15 de Abr de 2001

As informações sobre a origem dos índios Guajá não são precisas. Acredita-se que sejam da área do Baixo Tocantins, no Pará. Mas desde o século XIX, impulsionados pela expansão colonial, deslocaram-se para o Maranhão, onde continuaram mantendo sua tradição nômade, como um grupo que vive basicamente da caça e do extrativismo. Hoje, em torno de 230 índios distribuídos em três terras indígenas, os Guajá, ou Awá, como se autodenominam, completam os povos representados na exposição Programa de Índio, que será inaugurada às 20 horas do próximo dia 19, na Galeria da Residência. O fotógrafo Raimundo Paccó e o videomaker Caíto Martins visitaram os postos indígenas Awá e Tiracambu, ambos dentro da Terra Indígena Caru, que tem uma área de 172.667 hectares no noroeste do Maranhão. Apesar de estarem em outro Estado, os postos estão sob ingerência da Funai de Belém. Seguindo o mesmo direcionamento do trabalho feito nas tribos Kaapor, Tembé e Munduruku para a exposição, Paccó e Martins procuraram registrar as cenas comuns, algo que desse ao público uma visão sobre quem são os Guajá, um povo só recentemente considerado pela Funai como em contato, mas que ainda tem grupos isolados na floresta. O fotógrafo Raimundo Paccó se encantou com a beleza e a docilidade dos Guajá. Os traços deles são diferentes dos outros povos. Eles também são muito amáveis e falam o Tupi com uma pronúncia muito elegante. São cheios de estilo. Como em outras tribos, o fotógrafo diz que existem muitas crianças. Um dado que surpreende de forma positiva, porque os Guajá tiveram sua população bastante diminuída com o contato desordenado. A população voltou a crescer, mas com uma disparidade: existem mais mulheres do que homens. Fato que fez com que os Guajá, tradicionalmente monogâmicos, rearranjassem sua organização social. As informações são de um texto de 1999 do pesquisador da UFPA e Museu Goeldi, Louis Forline, publicado no site do Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org/website/index.cfm). Paccó e Martins coletaram histórias interessantes para a exposição, como a de dois irmãos que estão vivendo entre os Guajá, mas sobre os quais não se sabe a origem. Eles são nômades e falam uma língua que ninguém da Funai ainda conseguiu identificar. Faz mais de 12 anos que a Funai anda com eles por várias tribos e ainda não descobriu de onde são. Eles se adaptaram mais aos Guajá, mas não vivem dentro da aldeia, nem se comunicam com eles, a não ser por gestos. Recebem mais ajuda do posto da Funai, diz Paccó. Outra história que estará nas imagens da exposição é a do velho índio guardião de ossos. Eles guardam os ossos das caças e existe uma pessoa que fica responsável por isso. Tem os crânios de vários porcos-do-mato na casa dele, explica o fotógrafo. Programa de Índio reúne fotografias de Raimundo Paccó e Carlos Silva e vídeos de Caíto Martins e Adalberto Castro Júnior, além de registros sonoros do dia a dia das tribos, condensados de forma a mostrar a realidade e a diversidade dos índios brasileiros atualmente. Foram visitadas tribos dos povos Munduruku, Kaapor, Tembé, Xicrin, Arara, Assurini, Kararaô e Guajá. A exposição é uma realização da Fundação Romulo Maiorana em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi, Fundação Nacional do Índio, Secretaria Executiva de Cultura e projeto O LIBERAL na Escola. O patrocínio é de Supermercado Formosa, Foto Filmes, O Boticário e Golden Palace Bingo.

Nômades vasculham a floresta
Acredita-se que os índios Guajá estejam estabelecidos no Maranhão desde a década de 1950. Mas eles são um dos poucos grupos indígenas ainda estritamente nômades. Continuam perambulando pela floresta e, apesar de produzirem mandioca, arroz, milho, batata-doce, feijão e algumas frutas, ainda fazem da coleta, da caça e da pesca a base de sua subsistência. Um dos maiores problemas enfrentados por eles são as constantes invasões na área, cortada por estradas e pela ferrovia Carajás. Há desmatamento e a presença de caçadores ilegais dentro das terras indígenas do Caru, Alto Turiaçu e Awá, o que tem reduzido as possibilidades de caça para os Guajá, junto com o barulho da ferrovia, que afasta os bichos. A ferrovia Carjás, construída para atender ao Projeto Grande Carajás também atraiu migrantes ao longo das áreas indígenas e acabou estimulando as invasões. Ainda que próximos às influências externas, os Guajá mantêm referências tradicionais da cultura, como a cerimônia da viagem para o céu (ohó iwa-beh), descrita no texto de Forline no site do Instituto Socioambiental. Trata-se de um ritual de invocação dos ancestrais, quando os homens cantam e dançam até que as fortes batidas dos pés os levem aos céus, onde entram em contato com as entidades e as trazem à terra para fazer curas e bênçãos. As mulheres indicam aos maridos quem eles devem invocar. Serviço - Exposição Programa de Índio. Na Galeria da Residência (Padre Eutíquio,1612), de 19 de abril a 30 de maio. Visitação de terça a sábado, das 9 às 12 horas e das 15 às 19 horas, com entrada franca. Visitas monitoradas podem ser agendadas pelo fone 242-8758.

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