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Grupo processado financia operação na Terra do Meio

O Liberal-Belém-PA
Autor: Carlos Mendes
08 de Nov de 2004

A completa ausência do Estado na região da Terra do Meio, uma imensa área de oito milhões de hectares encravada entre os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, no sudoeste paraense, está provocando uma inusitada e irônica situação: um grupo empresarial do Paraná acusado em processos que tramitam pela Justiça Federal e Justiça Estadual de envolvimento com a grilagem de sete milhões de hectares no mesmo local financia as operações policiais e de órgãos ambientais, como a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) contra desmatamento, queimadas e extração ilegal de madeira, alegando estar protegendo suas terras de grileiros e predadores da floresta amazônica. O custo da operação saiu por por cerca de R$ 500 mil.

Há rumores na região de que a C.R Almeida estaria negociando a venda de um milhão de hectares de terras em Altamira para um grupo francês interessado na exploração de minério. Por conta disso, as notícias sobre crimes ambientais na região inibiriam eventuais negociações e parcerias com grupos estrangeiros.

A empresa Incenxil, braço econômico em Altamira do grupo C.R Almeida, paga aviões, fornece alimentos e alojamento em suas instalações, além de pista de pouso para utilização pelos servidores públicos. Em troca, conseguiu limpar a área de madeireiros e fazendeiros, expulsando por tabela famílias que foram encontradas no local durante a operação policial. Não é a primeira vez que isso ocorre. Outras operações de agentes públicos já foram financiadas pelo mesmo grupo privado.

Tratores, caminhões, motosserras e sementes de capim foram apreendidos nas regiões de Carajari, Rio Novo, Pilão, Monte Alegre e Rio Pardo. Essas terras, Cecílio do Rego Almeida têm dito sempre, são de sua propriedade e ninguém irá tomá-las.

A Incenxil cedeu sua base de apoio montada na área conhecida por Entre Rios como quartel-general dos policiais civis, militares e ambientais. A parceria está dando certo. A base do grupo da C.R Almeida fica distante cerca de 30 minutos de helicóptero da localidade de Riozinho do Anfrísio, onde o Ibama pretende instalar brevemente um posto permanente de atuação. O local, segundo a empresa, que ironicamente é processada pelo governo paraense, seria alvo permanente de cobiça por grileiros e madeireiros de Rurópolis, Mato Grosso e invasores estabelecidos aos longo das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá.

Autoridades receberam documento

Tudo o que aconteceu nessa operação, realizada há mais de 20 dias, está relatado num documento encaminhado à Casa Civil do governador Simão Jatene e ao chefe da Polícia Civil, delegado-geral Luís Fernandes. Os denunciantes, que se dizem pequenos agricultores da região, fazem carga pesada contra o delegado de Meio Ambiente de Altamira, Marco Antônio Lemos, a quem acusam de "tomar atitudes que extrapolam os limites da legalidade".

De acordo com as denúncias, o delegado teria comandado uma operação policial com o objetivo de expulsar posseiros que ocupam terras reivindicadas por Cecílio do Rego Almeida, dono da C.R. Almeida, que se intitula dono de sete milhões de hectares de terras do Estado do Pará, entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu.

Eles afirmam que no último dia 10 de outubro vários produtores que ocupam uma área de terras entre os rios Iriri e Xingu, na margem direita do Rio Novo, foram surpreendidos por uma grande operação policial comandada pelo delegado Marco Antônio e acabaram expulsos da área.

Trabalhadores presos e interrogados

A operação foi apoiada por dois aviões pequenos, de prefixo PT-RLF, da empresa Avenorte, e PT-BBW, da Renancia Táxi Aéreo, além de um helicóptero, de prefixo PTHMP, da L Sul Táxi Aéreo. O frete das aeronaves, garantem, foi pago pela C.R Almeida. Eles acrescentam que a operação policial foi apoiada ainda por vários homens fortemente armados sem qualquer identificação. Os aviões e o helicóptero pousaram na pista do Rio Bonito.

Em seguida, vários trabalhadores que estavam acampados foram presos e interrogados sob a mira de armas de grosso calibre para que identificassem os seus patrões. Os pequenos produtores afirmam ainda que foram utilizados meios violentos, tais como tapas, socos, coronhadas, "como forma de arrancar a verdade imposta pelos algozes".

Os trabalhadores rurais Francisco Erismar Pereira, Alexandro Caetano de Morais, Teço Aurélio, Romário Viana e Francisco Alves dos Santos foram presos, interrogados e depois liberados. Toda a operação foi acompanhada pelo gerente da C.R Almeida, José Inácio. Dois outros trabalhadores continuam presos em Altamira.

Alguns homens que participaram da operação fizeram barreiras nos afluentes do rio Xingu para interrogar moradores ribeirinhos e tomar barcos, motores e ferramentas de trabalho, chegando ao extremo de cobrarem "pedágio" para liberar as embarcações.

Queixa - Segundo os pequenos produtores que fizeram as denúncias, para tentar dar uma aparência de legalidade à operação policial na Terra do Meio, o gerente da C. R Almeida, José Inácio, teria entrado com uma denúncia na Sectam e uma queixa-crime na Delegacia de Meio Ambiente de Belém (Dema), afirmando que os colonos estavam derrubando árvores protegidas por lei.

A ordem para a operação teria partido do diretor da Dema, Roberto Pimentel, após consulta à direção da Polícia Civil e apoio do secretário Gabriel Guerreiro e do diretor Paulo Khoury, ambos da Sectam.

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