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Grupo pede US$ 400 mil para salvar os anfíbios

FSP, Ciência, p. A12
11 de Jul de 2006

Grupo pede US$ 400 mil para salvar os anfíbios
Extinção é risco para quase 2.000 espécies na Terra

Reinaldo José Lopes

A última edição da maior revista científica do mundo, a americana "Science" (www.sciencemag.org), virou plataforma para um grito de socorro. Pesquisadores do mundo todo pediram ação urgente e um bocado de dinheiro para salvar os anfíbios do planeta, que passam por uma crise de extinções sem precedentes.
Capitaneados por Simon Stuart, pesquisador do Centro de Ciência Aplicada à Biodiversidade da ONG Conservação Internacional, os pesquisadores alertam que nada menos que 32,5% das espécies conhecidas do grupo estão sob ameaça de desaparecer da face da Terra. E o mínimo de recursos para impedir o sumiço iminente de sapos, rãs, pererecas, salamandras e cobras-cegas gira em torno de US$ 400 milhões, a serem gastos nos próximos cinco anos, diz o grupo.
Desafio imenso
"Eu sei que é um desafio imenso, e precisamos do apoio de governos, organizações internacionais, fundações, empresas e mesmo indivíduos", declarou Stuart à Folha. A ASA (Aliança para a Sobrevivência dos Anfíbios, na sigla inglesa), como os pesquisadores batizaram o projeto, ficaria responsável por ações tão diversas quanto o monitoramento das espécies em seu ambiente natural, estudos de laboratório sobre as causas de seu declínio e até iniciativas para reproduzir os bichos em cativeiro.
Se parece exagero, é bom lembrar que a situação é realmente caótica. Cálculos da ASA indicam que, das 5.743 espécies conhecidas de anfíbio, mais de 120 se extinguiram desde os anos 1980. Mais da metade das espécies sobreviventes passa por declínios em sua população. E nada garante que a mortandade não leve para a cova anfíbios que a humanidade nem conhece ainda.
"Ninguém sabe quantas com certeza, mas não há dúvidas de que ainda existem milhares de espécies de anfíbio ainda não descobertas", diz Stuart. No Brasil e no resto da América do Sul, afirma ele, muitas novas espécies estão sendo descritas agora, e regiões potencialmente ricas em anfíbios ainda são pouco mais que um monte de pontos de interrogação: Papua-Nova Guiné, Indonésia e África Equatorial, entre outras.
De quebra, os perigos que rondam o grupo vão além do binômio familiar "destruição do habitat/caça". O grande assassino hoje parece ser um fungo, causador da doença conhecida como quitridiomicose.
Os cientistas a consideram a pior doença infecciosa a afetar um grupo de vertebrados, levando em conta a taxa de mortalidade e número de espécies infectadas. A ação nefasta do fungo já causou hecatombes entre os anfíbios de todos os continentes menos a Ásia, de acordo com Stuart. Para piorar, seu avanço parece estar ligado ao aquecimento global, quase impossível de combater hoje. No Brasil, o fungo já foi detectado, embora não se saiba se ele também está implicado em mortandades parecidas.
Ninguém sabe que efeitos ecológicos podem estar associados ao sumiço dos anfíbios. Os bichos têm um papel relevante como controladores naturais da população de insetos, e suas larvas, os chamados girinos, limpam cursos d'água de plantas. "Efeitos-dominó são certamente possíveis -os insetos não teriam grandes predadores. Mas ninguém pode prever com certeza o que acontecerá", diz Stuart.

NA INTERNET - Veja galeria de anfíbios ameaçados no mundo todo http://www.folha.com.br/061911

FSP, 11/07/2006, Ciência, p. A12

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