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Grupo investe no manejo florestal

Folha BV - www.folhabv.com.br
Autor: Andrezza Trajano
16 de Abr de 2010

Retirar madeira da floresta Amazônica causando o menor impacto possível é a filosofia de um grupo suíço instalado em Roraima há uma década, por meio do manejo florestal.

O grupo é composto por empresas que atuam no manejo de floresta nativa, reflorestamento e na área de serraria. E estuda ampliar os serviços sustentáveis a outras instituições interessadas no fomento e em projetos florestais ecologicamente corretos.

A empresa tem a certificação FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês), que atesta a origem da madeira, ou seja, garante que aquela matéria-prima foi extraída da natureza respeitando a legislação ambiental, dando tempo para que a própria floresta se recupere. O certificado, também conhecido como "selo verde", contribui para o desenvolvimento social e econômico das comunidades florestais.

O grupo trabalha diretamente com o manejo de florestas nativas e o reflorestamento da espécie Acacia mangium. No manejo, a floresta nativa é explorada de maneira sustentável, ou seja, é feito um inventário da área, detectando as espécies que devem ser derrubadas e preservando aquelas que podem ser colhidas futuramente, além das que devem ser preservadas.

"Não há o corte raso [derrubada de todas as espécies da região onde será realizada a atividade de exploração], visando à sustentabilidade ambiental e econômica da floresta", explica a engenheira florestal Lorenza Cordeiro, 29.

Já o reflorestamento implementa um sistema de cultura florestal em ambientes degradados e antropizados (área que sofreu interferência do homem). "É uma prática mundial que busca a otimização de espaços para produção de madeira, reduzindo assim a pressão sobre as florestas nativas", observa.

EMPREENDEDORISMO - Na avaliação da engenheira, empreendedorismo sustentável "é bom para o mercado consumidor, para os colaboradores da empresa que ganham qualidade no trabalho e principalmente para o meio ambiente, que tem suas áreas de preservação respeitadas".

Este mercado tem gerado bons frutos para a empresa, que já conta com 300 colaboradores e pretende aumentar as atividades de exportação. Segundo o diretor do grupo, David Kahn, 64, o manejo florestal está em ascensão, movimentando a economia com a contratação de mão-de-obra.

O grupo exporta 90% de sua produção para o exterior e o restante, para diversos lugares do país. Por questões de mercado, não informou o valor das exportações nem o faturamento anual. As Acacias mangium estão plantadas em áreas ao redor de Boa Vista, totalizando 30 mil hectares.

Mas, segundo ele, o que credencia o empreendimento como investimento de sucesso é, sem dúvida, o FSC. "Infelizmente ainda há quem compre madeira ilegal, principalmente da região sul do Estado. Já o mercado internacional tem a consciência de que comprando madeira certificada se está adquirindo um produto que é tratado de forma correta e que há participação da sociedade", destacou.

Outra iniciativa do grupo é oferecer as sobras das madeiras para artesãos e cooperativas para que possam confeccionar peças a partir de matéria-prima que não denegriu o meio ambiente.

De acordo com o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Ariosmar Mendes Barbosa, durante atividades de capacitação, a instituição conta com a parceria do grupo suíço. "Nós usamos as áreas do grupo para mostrar aos madeireiros como trabalhar com manejo. Sem dúvida, o empreendimento é referência", disse.

MADEIRA - Em 2004, o valor das exportações do setor madeireiro roraimenses chegava próximo a seis milhões de dólares. Entre 2006 e 2008 sempre esteve acima da casa dos 16 milhões de dólares. Em 2009, levando-se em consideração que os dados ainda são sujeitos à revisão, as exportações se aproximam de 13 milhões de dólares.

Feita com matéria-prima originada em áreas de manejo florestal ou descartada na natureza, a arte roraimense surge em sobras de madeira e ganha o mercado nacional e internacional.

A madeira, principal produtor exportador do Estado, ganha forma nas mãos de artesãos que tratam as espécies como bens valiosos, promovendo a sustentabilidade. O cedro, mogno, a maçaranduba e tantas outras são mais do que tipos de árvores, são presentes da natureza que merecem tratamento especial.

O artesão Irmânio Magalhães, 41, transporta seu amor por Roraima para todas suas peças. Tem preferência pela iconografia do Estado, com destaque para a fauna, flora, arquitetura e até mesmo a música. Tudo se aproveita e "ganha vida", mesmo depois da natureza morta. "Até a inspiração ganha forma", diz ele.

Ele cresceu em meio à arte. Filho de artesão, auxiliava o pai na confecção das peças e ainda criança, fabricava seus brinquedos. O gosto também foi estendido aos demais membros da família. A mulher dele pinta quadros e a filha, de 8 anos, estuda música e também ensaia suas primeiras pinturas em telas.

Empreendedor nato, desenvolve protótipos de algumas de suas peças e os repassa para que outros artesãos desenvolvam os produtos, fomentando a economia. As peças feitas por ele e por outros artesãos são comercializadas em um box da praça Velinha Coutinho, no Centro.

Irmânio também "fabrica" as próprias máquinas que utiliza na confecção de suas obras. Os instrumentos são feitos com o que é descartado, como equipamentos velhos, pedras e sucatas, que, nas mãos do artista, transformam-se em "máquinas potentes".

Com a cabeça "fervendo constantemente de ideias", que mistura artesanato tradicional com tecnologia, Magalhães recebe carinhosamente dos amigos a denominação de "ecodesing" e "artista da natureza". "Sou um pouquinho de cada um", brinca.

Ao transformar sobras de madeira encontrada na beira de estrada, de poda ou de extração legal, "há uma supervalorização da matéria-prima", como mesmo define.

O trabalho, muitas vezes milimétrico, está presente na casa de muitos brasileiros. Do anônimo à maior autoridade do País, as obras dele caíram no gosto dos amantes da arte.

Quando esteve em Roraima no ano passado, o ex-ministro Mangabeira Unger ganhou um "pen-drive ecológico" feito por Magalhães. Unger gostou tanto do mimo que levou outra unidade para presentear o presidente Lula da Silva.

O diferencial do objeto eletrônico dos demais é simples. O pen-drive tem formato de tamanduá-bandeira, um dos símbolos da região. O preço varia entre R$ 70,00 e R$ 80,00, dependendo da memória em gigabytes.

TOTALIDADE - Irmânio Magalhães diz que enquanto o artesão consome 1 metro cúbico de madeira durante um ano, uma madeireira consome a mesma quantidade em apenas um dia e nem tudo é aproveitado. "No nosso caso há sustentabilidade. O artesão usa tudo da madeira por muito tempo", ressalta.

Além do dom, ele adquiriu técnica em capacitações, que incluiu cursos de artesanato e em empreendedorismo no Sebrae e outros alternativos, como de prótese, por exemplo, que auxilia na hora de criar suas peças.

http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=84378

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