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Grupo impede corte de árvores

OESP, Nacional, p. A8
19 de Jan de 2010

Grupo impede corte de árvores
Ação de assentados foi protesto contra irregularidade em convênio entre Incra e cooperativa ligada ao MST

José Maria Tomazela
Iaras

Cerca de 150 moradores do Assentamento Zumbi dos Palmares, em Iaras, sudoeste paulista, bloquearam ontem a rodovia SP-81 e impediram o início do corte de uma floresta de pinus por uma empresa contratada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O Incra pagou R$ 1,3 milhão para a empresa cortar e transportar a madeira para um depósito da região, mas os assentados exigem que o produto seja vendido e o dinheiro aplicado nos lotes. A estrada, que liga as cidades de Águas de Santa e Lençóis Paulista, ficou fechada das 7 às 11 horas.

De acordo com o presidente da Associação dos Assentados da Reforma Agrária Zumbi dos Palmares (Arzup), José Antonio Maciel, o corte do pinus tinha sido embargado no ano passado pela Justiça Federal depois que o Ministério Público Federal constatou que o dinheiro da madeira estava sendo desviado por uma cooperativa ligada ao Movimento dos Sem-Terra (MST). A cooperativa tinha convênio com o Incra para cortar e vender a madeira, aplicando o recurso nos lotes, mas parte do dinheiro desapareceu. Ao constatar as irregularidades, o Incra revogou o convênio. No fim do ano passado, o órgão federal fez um acordo com o Ministério Público para retomar o corte do pinus.

Maciel alega que os assentados foram excluídos do acordo. "Não vamos permitir que a madeira dos lotes seja levada sem retorno para os assentados", defendeu Maciel. Segundo ele, o Incra não fez licitação para a venda do produto que, depois de cortado, precisa ser serrado em no máximo 40 dias. "Depois desse período, a madeira perde valor." O total a ser cortado em mais de 100 lotes chega a 45 mil metros cúbicos, com valor de R$ 3,5 milhões. Até ocorrer o embargo, a cooperativa do MST havia cortado cerca de 100 mil metros cúbicos, segundo ele. "Quando a Justiça embargou, tinha 20 mil metros de madeira amontoados nos carreiros. Hoje, essa madeira está apodrecendo e só serve para queimar."

Um funcionário do Incra em Iaras esteve no local do bloqueio e prometeu suspender o corte até amanhã, quando deverá ocorrer uma reunião entre os assentados, a superintendência do órgão e o MPF de Ourinhos. Enquanto dura o impasse, pelo menos 100 famílias, assentadas no meio da floresta, estão sem condições de produzir.

O assentado Orlando Ramos, de 63 anos, e sua mulher Simone sobrevivem catando cascas de árvore, ensacadas e vendidas para a produção de adubo orgânico. "Pagam R$ 2,30 pelo saco com dez quilos", conta. Há um ano no lote, ele não tem água nem energia. Quando chove, a estradinha de acesso fica intransitável. No lote vizinho, Luiz Alexandre de Almeida, de 56 anos, investiu suas economias num poço de seis metros. "O dinheiro que seria investido na rede de água desapareceu", diz.

OESP, 19/01/2010, Nacional, p. A8

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