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Greenpeace: Não é caçando bois no pasto que se resolve o problema

O Globo, O País, p.. 4
04 de Jun de 2008

Greenpeace: Não é caçando bois no pasto que se resolve o problema
Sociedade Rural pede fim de declarações agressivas de Minc contra o agronegócio

Soraya Aggege

Tanto o Greenpeace como a Sociedade Rural Brasileira avaliaram ontem que a captura de bois piratas, anunciada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, seria uma medida inócua. As entidades dizem ainda que o governo precisa promover o zoneamento ecológico e o ordenamento fundiário da Amazônia. A Região Amazônica tem um rebanho de 80 milhões de cabeças de gado - quatro vezes o número de moradores. Segundo o Greenpeace, uma área de 150 mil kM2 de terras já desmaiadas na floresta podem ser destinadas a dobrar a produção agrícola da Amazônia, desde que haja um zoneamento.
- Não vai ser caçando bois no pasto que vamos resolver o problema. Até porque bois não ficam sobrando assim, perdidos na floresta. Na Amazônia, para os desmatadores, boi é melhor que tora de madeira, porque vai andando até o ponto de venda e vira dinheiro na hora - disse Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace.
Já o presidente da SRB, Cesário Ramalho da Silva, afirmou que o ministro Carlos Mínc precisa parar de dar declarações agressivas contra o agronegócio e cuidar das diferenças regionais do país para o meio ambiente. Além de zoneamento, o agronegócio quer nova legislação ambiental para o país, adequada regionalmente:
- Por exemplo: temos a mesma legislação para Rio de Janeiro, Amazônia, pampa e Pantanal. Isso precisa ser mais bem adequado. 0 país tem leis e o agronegócio é uma atividade legal. Ninguém quer ficar fora da lei. 0 agronegócio gera 37% dos empregos e 29% do PIB nacional - afirmou Ramalho.
Para os produtores, um regime regulatório adequado para a floresta poderá fazer com que a floresta em pé valha mais do que derrubada. Segundo Ramalho, o governo precisa regularizar a situação e fiscalizar:
- Em vez de dar essas declarações agressivas o tempo todo, o ministro deveria ir cuidar das nossas leis, das regulamentações. 0 que estamos vendo é o presidente Lula defender ardorosamente o agro-negócio, mas parece que há um ministro em desacordo com ele. Assim fica difícil.
Segundo especialistas ligados a órgãos de pesquisas do governo ouvidos pelo GLOBO, tecnicamente não há nenhum impedimento para que o país faça um zoneamento. 0 problema, avaliam, é que um zoneamento bem feito, que não atenda ao interesse de nenhum ministério, vai contrariar a todos. Para ser isento, o zoneamento vai desagradar a indígenas e produtores rurais, ambientalistas e investidores, e talvez o governo não esteja preparado para tanta polêmica.
Segundo Leitão, o desmatamento é muito maior que o mostrado pelo Inpe.
- 0 imenso tapume de nuvens encobriu situações muito mais graves, inclusive em outras regiões, como o Pará - disse o diretor do Greenpeace.

O Globo, 04/06/2008, O País, p.. 4

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