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Governo tem de agir para impedir a contaminação de indígenas

O Globo - https://oglobo.globo.com/opiniao
16 de Abr de 2020

Governo tem de agir para impedir a contaminação de indígenas
Mas vai na direção oposta a demissão de diretor do Ibama que reprimiu ação de garimpeiros e madeireiros

Editorial

Entre as muitas tragédias perpetradas pela pandemia do novo coronavírus, uma começa tomar forma no Norte do país e pode adquirir proporções incalculáveis se medidas de contenção não forem tomadas logo. Trata-se da chegada da doença às aldeias indígenas, levada por garimpeiros e madeireiros que atuam ilegalmente.
O sinal de alerta surgiu na quinta-feira passada, quando morreu, em Boa Vista, Roraima, o adolescente ianomâmi Alvanei Xirixana Pereira, de 15 anos, que testara positivo para a Covid-19. Ele morava numa aldeia às margens do Rio Uraricoera, região explorada por garimpeiros. Como mostrou o "Fantástico", da Rede Globo, pelo menos outras duas mortes de indígenas já foram registradas no Alto Solimões.
Com o aumento do número de casos e o surgimento das primeiras mortes, o clima nas aldeias é de apreensão. O líder Dario Yanomami disse ao "Fantástico" que está "muito preocupado" com avanço da doença em Roraima. Estima-se que existam 20 mil garimpeiros ilegais atuando em terras ianomâmis. Eles podem disseminar facilmente a Covid-19 para as populações indígenas. A situação se torna mais complexa porque, em geral, essas regiões não têm estrutura para tratar casos graves.
Outra preocupação é que o Amazonas, estado que registra a maior proporção de casos de Covid-19 no Brasil, concentra a maior população indígena do país, cerca de 170 mil pessoas.
Não se pode dizer que setores do governo não estejam agindo para impedir que essas populações sejam dizimadas. Há dias, o Ibama deflagrou uma megaoperação para afastar garimpeiros e madeireiros de três terras indígenas no Sul do Pará, onde vivem 1.700 índios. Os fiscais, que não entraram nas aldeias, tiveram o cuidado de fazer quarentena. Invasores foram expulsos, armas apreendidas e equipamentos queimados, tudo dentro do protocolo.
Mas, como o governo Bolsonaro age de forma transversa, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, exonerou o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo. A repressão a garimpeiros e madeireiros teria desagradado ao Planalto, e o entendimento é que Azevedo não conseguiu impedir o ímpeto dos fiscais, que nada mais faziam do que cumprir o seu papel.
A reprovação à ação do Ibama já seria condenável do ponto de vista ambiental, principalmente quando se sabe que o desmatamento na Amazônia continua crescendo, apesar de o governo não querer vê-lo. Mas, nesse caso, se trata sobretudo de um grave problema de saúde pública. É preciso proteger essas populações, impedindo que invasores se aproximem das aldeias. Nesse sentido, o afago do governo a garimpeiros e madeireiros ilegais ganha ares de crueldade.

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