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Governo oferece protecao a 65 no Para

FSP, Brasil, p.A5
21 de Fev de 2005

Governo oferece proteção a 65 no Pará
Secretaria de Direitos Humanos vai entrevistar vítimas, testemunhas e defensores de direitos humanos na região
Eduardo ScoleseDa sucursal de Brasília Integrantes da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República viajam nesta semana ao Pará para entrevistar 65 pessoas da região de Anapu que integram uma lista de ameaçados de morte.De acordo com a secretaria, todos poderão solicitar seus ingressos num programa de proteção organizado pelos governos federal e estadual.No município em que a freira norte-americana Dorothy Stang foi assassinada no dia 12 de fevereiro, a secretaria irá falar com vítimas, testemunhas e defensores de direitos humanos citados na relação elaborada pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, uma organização não-governamental criada em 1977.Segundo o governo, caso seja necessário, haverá estrutura (verbas e pessoal) para atender aos ameaçados."A comissão [da secretaria especial] vai ouvi-los e ver o tipo de proteção que desejam. Alguns, com certeza, preferem até deixar o Estado, por causa das ameaças", disse ontem o assessor especial da secretaria da Presidência Romeu Olmar Klich. Segundo ele, uma tropa de elite da Polícia Militar do Estado do Pará está sendo treinada para a missão.Segundo Olmar Klich, para aderir ao programa de proteção é preciso que a pessoa que se diz ameaçada assine um termo de compromisso e seja submetida a uma série de regras. "Muitos não aceitam, pois é uma situação muito complexa." Dos cinco integrantes da comissão criada para tratar do tema, dois irão ao interior paraense.Comissão da OABOntem, em reunião da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Olmar Klich disse que, atualmente, a secretaria tem um papel "casuístico". "É uma política casuística, mas o nosso objetivo é que, a longo prazo, possamos nos antecipar às violações dos direitos humanos."No encontro de ontem, a comissão da OAB traçou algumas estratégias para a entidade lidar com a atual onda de violência no campo, principalmente no Pará, onde, além da freira norte-americana, pelo menos outras três pessoas foram assassinadas na semana passada devido a conflitos fundiários.Entre as proposições da OAB, está a disponibilização de advogados para atuar em parceria com os governos federal e estadual (ajudar, por exemplo, na mão-de-obra de processos acumulados); sugerir a elaboração de normas e legislações em geral que possam ser úteis no dia-a-dia da região (como decretos); e cobrar do governo federal a completa realização do pacote ambiental anunciado na semana passada para a região amazônica.CPT"Além disso, vamos procurar a CPT [Comissão Pastoral da Terra], buscar o relatório [já concluído] da CPI da Pistolagem, cobrar a federalização [à Procuradoria Geral da República] do caso [do assassinato da freira] e o aparelhamento do Estado", disse o presidente da comissão, Edísio Simões Couto.Todas as sugestões, porém, terão de passar pelo crivo do Conselho Federal da OAB, em reunião marcada para hoje. "Tenho certeza que todas serão aprovadas", disse Couto.Ontem, o presidente da OAB, Roberto Busato, disse que a presença momentânea de 2.000 homens do Exército no Pará (região de Altamira e Anapu) não vai conseguir conter a onda de violência local."Exército nenhum resolve problema fundiário. Nenhum Exército do mundo pode resolver um problema social que tem como origem conflitos fundiários graves."
Atoleiro e fome no retorno ao assentamento
Jefferson CoppolaEnviado especial a Anapu Pneu furado e carro atolado. Chuva, barro e fome. Esse é o resumo da viagem de quatro famílias que, na última sexta-feira, deixaram o centro de Anapu (PA) e retornaram para o PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, a 46 km de distância, no meio da floresta onde a irmã Dorothy Stang foi assassinada, no último dia 12.As famílias, que integram o PDS Esperança, estavam em Anapu para participar da missa de sétimo dia da morte da freira. A Folha acompanhou a viagem de volta feita por esse grupo de 15 pessoas à floresta, em uma camionete Toyota/Bandeirantes."Com fome. Com medo. Mas de volta para a casa", disse Maria ao subir na carroceria da camionete. Nenhum dos passageiros quis dar o nome completo.A volta para casa, depois de seis dias fora, levou quase três horas e meia. Na primeira meia hora, um pneu furou. Em menos de 15 minutos, o grupo trocou o pneu. "Mais rápido que na Fórmula 1", brincou Tripa, apelido do motorista. Mais 30 minutos e a camionete atolou numa ladeira cheia de barro. Todos ajudaram a "toyotinha" a subir. Os pneus patinaram espalhando lama nos passageiros.Vencida a ladeira, foi a vez do motor falhar: superaquecimento. Minutos mais tarde, a camionete voltou a funcionar."No inverno [época de chuvas constantes] a gente sofre", disse uma das moradoras. Ela conta que é a segunda vez que faz o trajeto de carro desde que chegou ao PDS Esperança. "Já saí algumas vezes da mata, mas sempre a pé. Chega a demorar mais de dez horas."Na estrada vicinal de terra, a paisagem é formada basicamente por fazendas de gado. Após alguns quilômetros na mata, é encontrada uma camionete queimada. Seria o veículo usado pelos assassinos da freira na fuga, segundo versão da polícia e dos moradores. "Ficaram atolados e tacaram fogo para despistar", disse um morador.Por volta das 16h, a primeira casa do PDS foi avistada. Todos desceram no barraco de Maria. "É mais seguro ficarmos juntos", disse um morador.Seguindo a estrada mais uns 800 metros, uma cruz marca o local onde a freira foi morta.
FSP, 21/02/2005, p.A5

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