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Governo Lula é alvo de ativistas de esquerda

O Globo, Economia, p. 22
27 de Jan de 2006

Governo Lula é alvo de ativistas de esquerda

Soraya Aggege
Enviada especial

CARACAS. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de severas críticas ontem em Caracas por organizações internacionais de esquerda. Em um dos debates mais acalorados do Fórum Social Mundial (FSM), sobre a integração da América Latina, a defesa do governo ficou a cargo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A perda do cargo e a cassação no Congresso não serviram para baixar a agressividade de alguns ativistas estrangeiros, que o consideram responsável, como Lula, pelos rumos do governo petista.
Em outro debate acalorado no FSM, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, foi poupado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), mas bombardeado por várias organizações internacionais.
Presença no Haiti foi motivo de críticas
O ativista americano contra a guerra Ricardo Allen, de 47 anos, iniciou o bombardeio ao ex-ministro afirmando ter ficado estarrecido com a posição do governo em relação aos madeireiros da Amazônia, ao assassinato da missionária Dorothy Stang, à reforma da Previdência e à participação militar brasileira no Haiti.
- Eu tenho medo de ir ao Brasil. Se os madeireiros com quem o governo negocia mataram a irmã Dorothy, que nem era ativista de esquerda, o que farão comigo? - indagou.
Dirceu respondeu que o caso Dorothy estava sendo investigado, que os aposentados brasileiros tiveram aumentos reais de benefícios e provocou o americano ao falar sobre o Haiti:
- Vamos lembrar que houve antes uma ocupação unilateral do Haiti pelos Estados Unidos. Nossa avaliação é de que depois disto temos que contribuir com as forças da ONU. Não podemos comparar isso com a ocupação do Iraque.
Participaram do debate com Dirceu cerca de 150 ativistas estrangeiros. As outras questões foram de participantes que se diziam decepcionados com Lula, mas preocupados com a possibilidade de ele não ser reeleito e quebrar a quase hegemonia de esquerda na América Latina.
- Como ele pode falar em integração se todos eles, inclusive Lula, ainda obedecem a Washington? Gosto de Lula porque ele veio de baixo, mas creio que se adaptou demais ao poder. Porém, se não há outra opção, é melhor que seja reeleito - afirmou o peruano Alfonso Sanches, do Pátria Para Todos do Peru.
Ativista sustenta que não houve reforma agrária
Em outro ponto de debate, o ministro Rosseto também recebeu críticas dos ativistas estrangeiros. Os militantes cobraram avanços na reforma agrária e reclamaram da postura do governo em relação ao MST:
- Além de não fazer a reforma agrária, o governo tem tentado desestabilizar movimentos como o MST. Estamos chocados. Não seria um governo de esquerda? Então, porque tentar desestabilizar os movimentos? - reclamou a alemã Sofia Monsalve, da Fian, que atua na defesa dos direitos alimentares.

O Globo, 27/01/2006, Economia, p. 22

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