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Governo garante que caos de Jirau não será visto nas obras de Belo Monte

O Globo, Economia, p. 22
02 de Jun de 2011

Governo garante que caos de Jirau não será visto nas obras de Belo Monte
'Já observamos as condições das instalações e elas são adequadas', diz Carvalho

Chico de Gois

BRASÍLIA. O governo apressou-se em dizer, ontem, que a instalação do canteiro de Belo Monte, que deverá proporcionar a criação de 20 mil empregos diretos e 80 mil indiretos, não irá repetir o caos ocorrido em Jirau, quando trabalhadores se insurgiram, no início de março, contra as condições de trabalho, iniciando um quebra-quebra. Depois da revolta, quatro mil operários foram demitidos pela Camargo Corrêa, responsável pelas obras.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que o governo e as empreiteiras que tocarão as obras da Hidrelétrica de Belo Monte já realizaram uma reunião para tratar especificamente desse assunto.
No mês passado, depois de intermediar uma série de reuniões entre representantes dos trabalhadores de Jirau e diretores da Camargo Corrêa, Carvalho anunciou que o Palácio do Planalto adotaria uma tática diferente para Belo Monte e outras grandes obras. Na avaliação do governo, a situação se tornou incontrolável em Jirau depois que a construtora resolveu acelerar o ritmo das obras e manteve, no mesmo local de alojamento, mais de 20 mil trabalhadores.
- Já recebemos a visita do consórcio, que vai apresentar às centrais sindicais as condições de instalações e trabalho. Posso assegurar que, do ponto de vista das instalações e condições de trabalho, está tudo adequado - afirmou o ministro.
Ele disse ainda que, no local, serão instalados três canteiros, com alojamentos bem separados uns dos outros. Um deles terá capacidade para 8.700 trabalhadores; outro, para 2.100, e um terceiro abrigará 5.150 operários.
- Tudo isso está sendo adequadamente discutido - afirmou Carvalho. - Já observamos as condições das instalações provisórias e elas são adequadas.

Teve até incidente diplomático
Dilma foi a grande fiadora do projeto

Flávia Barbosa

BRASÍLIA. O licenciamento de Belo Monte encerra um longo período de disputas políticas e judiciais, que teve até um incidente diplomático por conta de sua construção em área histórica para os movimentos indígena e ambientalista. Mais de dez ações de grande repercussão foram impetradas desde 2001 contra o empreendimento, numa batalha incentivada por grupos da sociedade civil e levada a campo pelo Ministério Público Federal (MPF).
O questionamento sobre a responsabilidade socioambiental de Belo Monte não só provocou trocas de ameaças entre o MPF e a Advocacia Geral da União (AGU) como chegou à esfera internacional. No início de abril, usando como base uma petição de cerca de 40 ONGs, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu às autoridades brasileiras a suspensão do projeto de construção da usina.
Hoje presidente da República, a então ministra de Minas e Energia e, posteriormente, da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi a grande fiadora do projeto no governo Lula. A defesa intransigente das usinas na Região Amazônica fez de Dilma a antagonista da ex-senadora Marina Silva, que acabou saindo do Ministério do Meio Ambiente e do PT.
Tão polêmico quanto a modelagem da usina foi o leilão de Belo Monte, em 20 de abril de 2010. Considerando o projeto uma questão de honra, mas assombrado por uma rebelião das grandes construtoras e pela desconfiança sobre o custo da obra, o Palácio do Planalto recrutou empresas amigas para formar um consórcio. E ordenou às estatais que reduzissem a taxa de retorno do negócio para garantir uma tarifa baixa e a vitória de um grupo aliado.

O Globo, 02/06/2011, Economia, p. 22

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