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Governo federal intervém em Jirau

OESP, Economia, p. B1, B3
18 de Mar de 2011

Governo federal intervém em Jirau
Força Nacional e Polícia Federal assumem canteiros de obras, trabalhadores são retirados e operações são paralisadas por tempo indeterminado

Christiane Samarco e Rui Nogueira

Depois de ouvir a Camargo Corrêa e avaliar as informações do Ministério das Minas e Energia e dos relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Planalto decidiu mobilizar um contingente da Força Nacional e da Polícia Federal para assumir o controle dos canteiros da construtora na usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia.
A presidente da República, Dilma Rousseff, acompanha a situação e pediu que a retirada e acomodação dos trabalhadores fossem feitas com segurança.
Na noite de quarta-feira e madrugada de ontem, um grupo, supostamente de trabalhadores envolvidos na construção de Jirau, destruiu por completo o canteiro de obras, queimando mais de 45 ônibus.
Usando pelo menos 300 ônibus, a construtora retirou para a capital, Porto Velho, seus 18 mil trabalhadores dos canteiros nas duas margens do Rio Madeira, paralisou tudo e não tem prazo para a retomada das obras. Ao todo, a empresa tem 22 mil trabalhadores envolvidos na construção da usina, uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que forma o complexo hidrelétrico do Madeira junto com a usina de Santo Antônio.
Roberto Silva, gerente de Relações Sindicais e Trabalhistas da Camargo Corrêa, admitiu ao Estado que "a cidade não comporta tanta gente" e que a solução foi pagar transporte para os trabalhadores que pedem para voltar aos Estados de origem. A empresa estava usando prédios do Sesc e do Sesi para acomodar centenas de operários.
Ontem, a direção do consórcio da usina, o grupo Energia Sustentável do Brasil, e o ministério decidiram que a primeira providência, depois do controle na área de segurança, é começar a reerguer os refeitórios e os alojamentos. Hoje, o governo estadual e a empresa devem divulgar medidas para provar que têm o controle da área e assim reverter os pedidos de demissão que muitos trabalhadores estão fazendo.
O Estado apurou que o governo federal não tem dúvida de que os atos de vandalismo - que incendiaram 45 ônibus e 15 blocos de alojamento, além dos refeitórios e toda a área de lazer - foram comandados por cerca de duas centenas de homens encapuzados. No meio do tumulto, segundo informações levadas ao Planalto, eles chegaram a assaltar os caixas eletrônicos usados pelos trabalhadores para fazer saques de dinheiro no dia a dia do canteiro.
Ontem, em nota oficial, a Camargo Corrêa disse que os canteiros da empresa foram alvo de "ataques de vândalos" e que é "improcedente a informação de que reivindicações trabalhistas provocaram o incidente". O gerente Roberto Silva disse ao Estado que "até o sindicato dos trabalhadores repudiou o quebra-quebra, o que prova que não há demandas trabalhistas por trás do vandalismo". / Colaborou Tânia Monteiro

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110318/not_imp693553,0.php

Distúrbios em Jirau podem atrasar obra
Executivo diz que a previsão de início de operação em março de 2012 pode ser revista

Alexandre Rodrigues / Rio

Os distúrbios que paralisaram ontem as obras da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, devem comprometer o cronograma do empreendimento.
A afirmação foi feita pelo presidente do Energia Sustentável do Brasil, consórcio construtor da usina, Victor Paranhos, que ainda não tinha informações suficientes para avaliar os prejuízos provocados por uma série de saques e incêndios que destruíram dezenas de ônibus usados no transporte de trabalhadores e parte da estrutura de alojamentos do canteiro de obras da hidrelétrica, no Rio Madeira.
"Durante a noite houve uma invasão pelo mato, com pessoas encapuzadas. Hoje, os trabalhadores tentaram voltar ao trabalho e houve nova invasão. A tropa da Polícia Militar perdeu o controle. O comandante local tentou achar uma liderança para dialogar com a outra parte, foram reunidas algumas pessoas num refeitório, mas eles não se entendiam", contou o presidente do consórcio, que reúne GDF Suez e Eletrobrás.
Depois de participar de uma cerimônia na sede do BNDES na tarde de ontem, o executivo afirmou que não havia descontentamento aparente entre os funcionários ou pauta de reivindicações pendente. "É preocupante porque não sabemos qual é a motivação. Não há sequer uma liderança", afirmou.
Paranhos lamentou a paralisação das obras no momento em que estava perto de ser concluída a operação de desvio do Rio Madeira, com 95% do vertedouro pronto. Segundo ele, a previsão de início de operação da usina em março do ano que vem poderá ser revista.
Em meados de junho, trabalhadores da usina de Santo Antônio, que junto com a usina de Jirau formam o complexo do Rio Madeira, decidiram cruzar os braços para reivindicar reajuste salarial e pagamento de horas extras.
A paralisação culminou com destruição de 35 ônibus e 1 veículo e com a abertura de investigação pelo Ministério Público do Trabalho. A Odebrecht é responsável pelas obras de Santo Antônio. Juntas, as duas usinas terão capacidade de gerar 6.450 megawatts.
O prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho (PT), que também esteve ontem no BNDES, classificou o episódio como "uma rebelião, um motim" e manifestou preocupação com a falta de abrigo para milhares de trabalhadores. / Colaborou Wellington Bahnemann

Aumenta clima de tensão

Gabriela Cabral

Dezoito mil trabalhadores foram retirados do canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, em ação que contou com mais de 800 agentes de segurança pública entre estaduais e federais. Desde terça-feira, o clima de tensão tomava conta do canteiro, que fica a 130 quilômetros de Porto Velho, por motivos ainda desconhecidos.
Cerca de 60 veículos, entre ônibus e carros, foram queimados pelos trabalhadores, segundo a construtora Camargo Corrêa, responsável pelas obras civis da usina. O canteiro ficou quase todo destruído. Falta de pagamento de benefícios e participação dos lucros teriam motivado o início do conflito, mas alguns trabalhadores alegaram que a confusão começou quando um motorista do ônibus que faz o transporte agrediu um idoso.
Durante toda a quinta-feira, a Secretaria de Segurança Pública trabalhou para realizar a retirada dos trabalhadores do local que, inconformados, declararam que foram agredidos por policiais militares. Balas de borracha e bombas de efeito moral teriam sido usadas para dispersar os funcionários que permaneciam na entrada do canteiro de obras. Alguns foram feridos.
Vanilson de Jesus Souza, natural do Maranhão, que já trabalhou em cinco barragens e trabalhava há quatro meses em Jirau como armador, disse que nunca mais pretende voltar a Rondônia. "Todo mundo aqui veio de longe para ganhar um salário melhor e levamos bala. Nunca vi isso em nenhuma empresa no Brasil. Eles têm de fechar essa obra."
Os trabalhadores foram alojados no Serviço Social da Indústria (Sesi), na capital, onde devem negociar se continuam na empresa ou vão embora. A operação de transporte à Porto Velho foi feita com mais de 20 ônibus que tumultuaram o trânsito na BR-364. O secretário de segurança, Marcelo Bessa, solicitou reforço da Força Nacional. "O Estado não pode ser onerado por essa situação. Solicitamos apoio da Força Nacional para que assuma o policiamento das usinas."
O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Rondônia informou que não há motivação trabalhista para a movimentação dos operários. A polícia vai investigar as razões da fúria e a destruição, além de roubos em algumas áreas do canteiro e fora dele.

OESP, 18/03/2011, Economia, p. B1, B3

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110318/not_imp693553,0.php
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110318/not_imp693591,0.php
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110318/not_imp693592,0.php

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