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Governo estuda criar 'nova Imigrantes'

FSP, Cotidiano, p. C1, C3
17 de Out de 2011

Governo estuda criar 'nova Imigrantes'
Projeto prevê concessão de estrada entre Parelheiros, em SP, e Itanhaém, no litoral sul; custo pode chegar a R$ 648 milhões
Para o Estado, sistema Anchieta-Imigrantes já está com sobrecarga de veículos; nova rodovia dará suporte ao pré-sal

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO

O governo de SP iniciou estudo para uma nova ligação rodoviária entre o planalto e o litoral sul, que servirá para aliviar o sistema Anchieta-Imigrantes e dar suporte à exploração de petróleo e gás.
A via deve ligar Itanhaém a Parelheiros, no extremo sul da capital, ou ao Rodoanel, cortando a serra do Mar.
Embora não haja definição de traçado, a distância média é de 15 km -de Marsilac, distrito vizinho a Parelheiros, já é possível avistar Itanhaém. A Imigrantes tem 70 km.
O governo avalia incluir a obra em uma concessão abrangendo a maior parte da rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), de Mongaguá à Régis Bittencourt (BR-116).
Hoje, a SP-55 é o principal acesso a cidades como Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe e se tornou um gargalo, tanto para os turistas quanto para a economia, com o pré-sal.
No total, a concessão teria 153 km de rodovia, incluindo a nova ligação. Cálculos iniciais apontam para um investimento de R$ 648 milhões.
Com a nova concessão, haverá pedágios tanto na nova rodovia quanto no trecho da Padre Manoel da Nóbrega, entre Mongaguá e Peruíbe.
O número de praças e a tarifa ainda serão definidos. O governo não fixou prazo para concluir o estudo. Nos últimos dez anos, as maiores obras na conexão planalto-litoral sul foram a segunda pista da Imigrantes, inaugurada em 2002, e o Rodoanel sul, no ano passado.
Entre 2009 e 2010, o sistema Anchieta-Imigrantes ganhou 2,1 milhões de veículos, passando de 33,8 milhões 35,9 milhões por ano.
A nova rodovia integraria um amplo projeto de terceirização da infraestrutura de transportes do litoral, que inclui a concessão das rodovias dos Tamoios, Rio-Santos e Mogi-Bertioga e de dois contornos viários em Caraguatatuba e São Sebastião.
Também serão entregues à iniciativa privada as balsas e o túnel Santos-Guarujá.

PROJETO ANTIGO
A rodovia Parelheiros-Itanhaém é uma reivindicação histórica do litoral sul e chegou a virar lei em 1997, com o governador Mario Covas.
O ato de Alckmin atende a políticos aliados, como deputados estaduais da região e o prefeito de Itanhaém, João Carlos Forssell (PSDB).
Atende ainda entidades de empresários e de turismo e a Petrobras, que tem em Itanhaém um ponto estratégico na exploração do pré-sal.
Segundo Edson Aparecido, secretário de Desenvolvimento Metropolitano, Alckmin autorizou o estudo porque a "demanda é grande". "Perto de 53% do movimento do sistema Anchieta-Imigrantes é para o litoral sul", afirma.
Na Secretaria de Logística e Transportes, a rodovia está sendo estudada pelo mesmo grupo que delineou o túnel que ligará Santos a Guarujá.
"A Imigrantes está no limite. Nos feriados e férias, a pessoa demora seis, sete horas para andar um trecho da Padre Manoel da Nóbrega", afirma Silvio Lousada, secretário de Governo de Itanhaém.
Embora diga que isso "dificulta o turismo", ele ressalta que o foco é o pré-sal. "A rodovia cria uma logística para o transporte de cargas."

Impacto de nova estrada preocupa especialista
Para diretor do SOS Mata Atlântica, é preciso desenvolver plano com cautela
Pré-sal reflete aumento do fluxo no aeroporto de Itanhaém, que recebia média de cinco pessoas/dia em 2005

DE SÃO PAULO

Abrir a "nova Imigrantes" na serra do Mar talvez nem seja o grande problema -"há tecnologia para tudo"-, mas o projeto é uma ameaça pelo que a rodovia trará de impacto, afirma Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica.
Segundo ele, é temerário tocar projetos dessa envergadura sem que esteja pronto o macrozoneamento da Baixada Santista, espécie de plano diretor de uma região.
Também deveria, segundo ele, estar concluída a Avaliação Ambiental Estratégica, um estudo amplo sobre os efeitos do pré-sal no litoral sul do Estado.
O macrozoneamento e a avaliação passam por discussões no Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente). Além disso, afirma Mantovani, o passado condena.
"O histórico de ligações rodoviárias entre o planalto e o litoral é muito ruim, sob todos os aspectos, ambientais, sociais, econômicos", afirma.
Para ele, interesses eleitoreiros e de empreiteiras sempre deram o tom em projetos como a Imigrantes e a duplicação da Tamoios. "E 2012 é ano eleitoral. É um momento ruim para discutir isso."

PRÉ-SAL
A lógica por trás da nova estrada é parecida com a que move o governo na duplicação da Tamoios e da construção do contorno viário de São Sebastião, no litoral norte: viabilizar a expansão da atividade econômica.
No caso de São Sebastião, a preocupação é com a expansão do porto.
No litoral sul, o objetivo é resolver gargalos que possam atrapalhar o "boom" econômico esperado com o pré-sal. A expectativa é que até 2025 sejam injetados R$ 209 bilhões na região, o equivalente ao Orçamento de 150 anos de Santos.
A preocupação de Mantovani com os impactos na região também está na Avaliação Ambiental Estratégica.
O estudo, feito a pedido do governo estadual, prevê pressões negativas sobre o meio ambiente, a estrutura de serviços públicos (saúde, educação, abastecimento de água etc.) e sociais (principalmente moradia).
"Se o estudo do governo [sobre a nova rodovia para o litoral] não está levando em conta esses impactos, é preciso levar, de forma muito séria", afirma Mantovani.
Um exemplo do que pode ser o impacto do pré-sal na economia da região está na própria Itanhaém.
O aeroporto local, apontado como "fantasma" até 2005, quando recebia uma média de cinco passageiros por dia, é hoje o nono mais movimentado do Estado de São Paulo, entre os 30 administrados pelo governo.
Fica à frente, por exemplo, dos aeroportos de Jundiaí e Bauru. Em cinco anos, mais que triplicou o número de usuários -de 5.197, nos nove primeiros meses de 2007, para 15.890 este ano.
O local é base para o transporte de funcionários da Petrobras para as plataformas de Merluza (184 km da costa) e Mexilhão (320 km). "Se o movimento já é assim hoje, imagine quando a Petrobras tiver 11 plataformas em operação, como está previsto até 2017", diz Silvio Lousada, secretário de Governo de Itanhaém. Para explorar petróleo e gás na Bacia de Santos, a Petrobras vai usar cinco bases de apoio aéreo: Itanhaém, Santos, Cabo Frio, Jacarepaguá e Itaguaí (as três ultimas no Rio de Janeiro).
(JOSÉ BENEDITO DA SILVA)

FSP, 17/10/2011, Cotidiano, p. C1, C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1710201101.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1710201102.htm

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