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Governo do Tocantins decide retirar apoio a projeto de safári

OESP, Vida, p. A30
06 de Out de 2012

Governo do Tocantins decide retirar apoio a projeto de safári
Estado disse que, diante da rejeição apresentada pela sociedade, não vê viabilidade de sua implementação

Giovana Girardi

O governo do Tocantins informou, em nota, a retirada do apoio ao projeto de criação de um safári tipicamente africano no meio do Estado. A proposta, revelada pelo Estado no domingo, prevê a criação de uma reserva de 100 mil hectares para abrigar mais de 400 animais de 17 espécies, em um investimento de R$ 350 milhões.
De acordo com o projeto, predadores e presas, como leões, leopardos, rinocerontes, elefantes, girafas e hienas, viverão em uma área cercada, porém sem interferência humana - nem mesmo alimentação -, próxima ao Jalapão, em Lizarda.
Um vídeo de apresentação da proposta, apelidada de Out of Africa Brasil (Ooab), estava circulando havia dias na internet, mas muita gente achou que era piada. A Naturatins, órgão ambiental do Estado, no entanto, estava elaborando um termo de referência para nortear os estudos ambientais. Tanto o Ibama do Tocantins como o de Brasília estavam sendo consultados.
Após a reportagem, que acabou suscitando outras, um abaixo-assinado com mais de 1,8 mil assinaturas contra o safári elaborado pela Associação Tocantinense de Biólogos (Atobio) e manifestações contrárias em redes sociais, o governo voltou atrás.
"Todo e qualquer empreendimento privado tem regras e regulamentação até mesmo prévias à discussão da sua implementação. Apenas pela rejeição provocada nos meios ambientas federais e pela própria sociedade, o governo não vê viabilidade na implementação do referido projeto como ele foi aventado", disse o governo, em nota divulgada anteontem. A nota continua: "Tendo em vista a participação de empreendedores internacionais, o governo espera que os mesmos mantenham sua disposição de investir no Tocantins, desde que em projetos viáveis e em consonância com a sustentabilidade e respeito ao meio ambiente".
Denúncia. Na terça-feira, a Atobio fez uma denúncia ao Ministério Público Federal, pedindo o acompanhamento do caso. O procurador Álvaro Manzano deu início à investigação. "Entramos com a ação por acharmos que a proposta, da forma como foi apresentada, é 100% inviável", afirma Meriele Cristina Costa Rodrigues, diretora executiva da Atobio.
"Tanto por ir contra a legislação - não se pode importar macrofauna desse modo, a não ser para pôr em zoológico -, quanto pelo prejuízo que pode causar à fauna nativa", diz.
Além disso, explica a bióloga, apesar de o Cerrado e a Savana serem parecidos - fato que foi usado como justificativa pelo empreendimento -, as vegetações têm muitas diferenças. Não é à toa que não existem na região grandes herbívoros como há na África. "Uma girafa, por exemplo, não teria como viver aqui. As árvores que temos são de médio e pequeno porte e lá elas se alimentam das folhas de árvores que estão na sua altura."
Procurado, o médico Nicolau Esteves, ex-secretário de Saúde do Tocantins e idealizador do projeto, disse que não se manifestaria sobre a nota do governo.

Zoo em SP tem animais soltos, mas alimentados e condicionados

A única experiência no Brasil minimamente mais próxima da ideia de deixar animais exóticos perto de turistas é o ZooSafari, em São Paulo. Mas para por aí. Lá os animais não só existem em uma quantidade menor como estão contidos em um espaço também reduzido, em semicativeiro, e são alimentados.
Convidado a comentar a proposta do Tocantins, Paulo Bressan, diretor-presidente da Fundação Zoo, disse que não vê como a ideia poderia se sustentar. "É até difícil avaliar, de tão absurda. Eles falam em recriar aqui a cadeia natural, mas não seria natural, seria forçada", comenta.
Ele cita empecilhos práticos. "Esses animais não podem ser retirados da natureza. Leões que vêm para zoológicos não saem da África, onde estão ameaçados de extinção, mas de criadores na Europa. E no Brasil há uma sobra de leões de circo, velhos e fracos, que poderiam ir para um santuário, se a ideia é protegê-los. Mas um santuário não tem apelo comercial", diz.
Bressan também questiona o tamanho do empreendimento - 100 mil hectares. Essa condição, afirma, não pode ser chamada de cativeiro. Ao contrário, poderia configurar uma introdução de fauna exótica, o que é considerado crime ambiental. "Eles estariam simplesmente soltando os animais lá. Aqui o que fazemos não é só alimentar os bichos, mas eles são condicionados."
O veterinário pergunta o que seria feito da fauna local. "Colocar tudo junto é impraticável. E se tirarem os animais que estão lá, vão colocar onde? Imagina só limpar 100 mil hectares de fauna local para colocar exótica!" / G.G.

OESP, 06/10/2012, Vida, p. A30

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