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Governo denuncia Funasa de MT

Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Márcia Oliveira
03 de Mar de 2005

Dossiê revela em texto e fotos a precariedade da oferta de Saúde encontrada em aldeias xavantes há 4 meses

O superintendente de Política Indígena de Mato Grosso, Idevar Sardinha, protocola hoje no Ministério Público Federal (MPF) um dossiê contra a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de Mato Grosso, no qual relata, com texto e fotos, a precariedade da oferta de Saúde que encontrou em seis aldeias xavantes, que visitou em dezembro de 2004. Sardinha afirma que também encaminhará o documento para as várias comissões de Direitos Humanos no Estado.

O superintendente garante que um relatório, prestando informações e oferecendo ajuda, foi encaminhado para a Funasa antes do registro das cinco mortes de crianças xavantes, por desnutrição, no município de Campinápolis. "Onde fui, os xavantes viviam e vivem de forma precária, com a presença constante da fome e sem receber a visita de agentes de saúde há mais de ano. Mostro no dossiê que o que fizemos foi desconsiderado", informou Sardinha.

No documento, o superintendente também junta respostas da Funasa à alguns dos ofícios que a Superintendência lhes encaminhou. "Num deles, que nos mandaram em setembro do ano passado, o órgão diz que a questão da saúde indígena não é nossa atribuição", lembra Sardinha que em seguida ironiza: "Já naquela época eles estavam em condições de recusar nossa ajuda". O superintendente acredita que o órgão federal foi omisso no atendimento dos índios e que o sistema de identificação e tratamento das doenças adotado não é eficiente. "Venho tentando, não é de hoje, formar parcerias com eles, mas não temos conseguido. Com a transferência do atendimento de saúde indígena para as ongs, eles ficam distantes do problema e perdem o foco. Isso não funciona, eles tem que ter gente no próprio quadro para fazer o trabalho", afirmou o superintendente.

O coordenador estadual da Funasa, Jossy Soares, afirmou que hoje deve divulgar o número exato de crianças xavantes internadas com problemas de desnutrição. Esta semana foi divulgado que 20 delas estariam com o problema, mas a assessoria de imprensa do órgão, em Brasília, contesta a informação. Seriam 35 crianças xavantes internadas em Campinápolis, porém nenhuma delas por desnutrição.

Ainda segundo a assessoria, o número exato de mortos por desnutrição no município seriam cinco e não seis como foi divulgado.

Órgão não vai mandar comida

O coordenador estadual da Funasa em Cuiabá, Jossy Soares, informou ontem que aboliu a estratégia de encaminhar uma força-tarefa com alimentos para os xavantes de Campinápolis, depois de conversar com sua equipe técnica. Ao contrário do que havia dito na segunda-feira, Soares se corrigiu e informou que não é função da Funasa prestar auxílio assistencial. "Vamos levar os índios a levarem seus filhos para exame nos postos de saúde e os que tiverem qualquer problema, serão acompanhados. Essa é uma forma de garantir que a comida chegue às crianças, pois culturalmente, os adultos comem primeiro e o que sobra fica para os filhos", explicou.

Em nota técnica encaminhada pela assessoria de imprensa do órgão, em Brasília, é informado que a Fundação está distribuindo leite em pó, NAM 1, NAM 2 e leite de soja às crianças, cuja desnutrição foi atestada por um médico.

Ainda segundo o órgão, no pólo base de Campinápolis, localizado no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Xavante, atuam duas enfermeiras, dois auxiliares de enfermagem e oito agentes indígenas. E, existem compromissos firmados com a Prefeitura, para o fortalecimento das equipes multidisciplinares de saúde, com a contratação de três médicos, um odontólogo, dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem. A contratação ocorrerá a partir da publicação de portaria conjunta neste mês de março.

O órgão garante que as equipes da área vão fazer um diagnóstico nutricional nas 78 aldeias do pólo de Campinápolis, para identificar e encaminhar para tratamento as crianças desnutridas.

Funai - A presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, foi procurado pela reportagem para falar sobre as mortes das crianças xavantes em Mato Grosso, mas sua assessoria de imprensa informou que ele esteve a tarde toda em reunião. O órgão foi responsável pela saúde do índio no país até 1999.

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