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Governo demite dois responsáveis por estudo sobre o clima

O Globo, Sociedade, p. 25
16 de Mar de 2015

Governo demite dois responsáveis por estudo sobre o clima
Para especialistas, política equivocada põe meio ambiente em segundo plano

A nove meses da COP-21, importante conferência das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas, que será realizada em Paris, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Mangabeira Unger, demitiu dois coordenadores do maior estudo já feito no país sobre alternativas para adaptação à mudança do clima. O relatório "Brasil 2040", previsto para ser entregue no mês que vem, será usado como diretriz para um novo plano de ação visando à redução de impactos ambientais que vai ser apresentado à ONU, em dezembro. Os membros dispensados da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável foram o secretário, Sérgio Margulis, e a diretora de Programa, Natalie Unterstell.
As alterações no quadro de chefia podem comprometer a preparação do Brasil para a COP-21, onde um novo acordo contra emissões de dióxido de carbono deve ser assinado por lideranças mundiais. Para que esse objetivo seja alcançado, todos os países devem submeter à ONU políticas públicas de combate às mudanças climáticas, com metas de redução de emissões, de desmatamento, adaptações no setor de energia, plano de utilização de recursos hídricos e outras medidas.
Para figuras proeminentes do setor no Brasil, as demissões são uma prova de que as questões climáticas não são uma prioridade para o governo federal, que deixa a matéria cada vez mais de lado, mesmo no momento em que o assunto é tratado com máxima atenção na pauta internacional.
- Não vejo o governo dando atenção para as mudancas climáticas - afirma Suzana Kahn, vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). - Estamos indo na direção errada. Enquanto alguns países europeus, como o Reino Unido, dão exemplo, diminuindo as emissões de carbono, nós estamos aumentando as nossas. No passado, acusamos essas nações de não controlarem suas emissões; agora, o erro é nosso. E as próximas gerações vão pagar a conta.
Osvaldo Stella, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), reclama da falta de uma definição clara das políticas climáticas do governo federal. Para ele, tão importante como concluir a preparação do relatório "Brasil 2040" e apresentar soluções à ONU é realmente implementar essas propostas.
- É preocupante perceber que uma pauta tão importante está sendo relegada a um plano político remoto - diz o diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Ipam. - Se a questão ambiental fosse valorizada, ela seria tratada transversalmente, em todos os ministérios: Fazenda, Agricultura, Transporte... Não de forma isolada, como se estivéssemos sempre travando um cabo de guerra com as outras pastas.

O Globo, 16/03/2015, Sociedade, p. 25

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