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Governador vai intervir nas negociações

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: LOIDE GOMES
30 de Mai de 2005

O governador Ottomar Pinto (PTB) chegou ontem à noite em avião da Presidência da República com a missão de intervir diretamente nas negociações para libertar os quatro policiais federais reféns na maloca do Flexal, na área indígena Raposa/Serra do Sol.
Hoje, pela manhã, o governador deverá ir para a área de conflito em um helicóptero do Exército. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Basto, já havia pedido a intervenção pessoal de Ottomar a fim de manter a ordem em Roraima.
Veio para Roraima, em um avião executivo da Polícia Federal, o superintendente da PF de Brasília, Daniel Sampaio, acompanhado de um agente especializado em resgate Core (Comando de Operações Táticas), que devem entrar nas negociações, caso os índios não cedam às últimas negociações.
Ontem, houve um encontro dos representantes do Governo Federal com as lideranças indígenas da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima). Foi um ultimato pela liberação dos agentes federais presos na Maloca Flexal há nove dias. A expectativa é que eles sejam libertados nas próximas horas, mas a decisão será tomada pelos índios do Flexal.
Ontem à tarde, um helicóptero do Exército levou os dirigentes da Sodiur até a aldeia, para apresentar o resultado da reunião realizada pela manhã com o superintendente da Polícia Federal, Francisco Mallmann, Marcelo Behear, do Ministério da Justiça, Celso Correia, da Casa Civil, e Camilo Menezes, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, que vieram de Brasília.
Foram apresentadas três propostas para deliberação da comunidade local, que dará a palavra final sobre qualquer tentativa de acordo. A primeira, e mais importante, é a libertação imediata dos reféns. Caso não haja consenso, a Sodiur tentará convencer os tuxauas rebelados no Flexal a participar diretamente das negociações em Boa Vista ou a permissão para a visita dos representantes de Brasília.
O presidente da Sodiur, José Novaes, foi acompanhado dos tuxauas Jonas Marcolino e Tuxaua Amazonas. Também integram a comitiva Adriano Oliveira e Wilson Jordão, titular e adjunto da Secretaria do Índio.
Por causa do mau tempo, eles só chegaram ao Flexal às 17h. O helicóptero que os levou pousou ontem à noite no 6o BEC (Batalhão de Engenharia e Construção).
As primeiras conversas apontaram para um desfecho pacífico, segundo o chefe adjunto do Gabinete Civil, Joaquim Pinto Souto Maior Neto, o Netão, que no início da noite conversou com os tuxauas por radiofonia. Na opinião dele, isso pode ser um indício de que está próximo o fim do impasse.
Já o encontro com os representantes do Governo Federal não foi o que os indígenas esperavam. Segundo eles, o governo não veio para negociar, mas para exigir a libertação dos policiais.
A pauta de reivindicações, que inclui a execução de projetos que garantam o desenvolvimento sócio-econômico das comunidades, ficou apenas na discussão. "Eles não rejeitaram, mas também não acertaram nenhuma proposta. Disseram que tudo pode ser discutido", contou Jordão. Nenhum documento foi assinado. Ainda assim, Marcelo Behear considerou positiva essa primeira tentativa de acordo.
Jonas Marcolino viu o encontro como uma reunião na qual os dois lados puderam expor seus pontos de vista, e não como uma tentativa de negociação. Segundo ele, a liberação dos policiais não enfraquecerá o movimento, uma vez que foi alcançado o objetivo de chamar a atenção da mídia para o descontentamento com a homologação.
Os indígenas sinalizaram com a possibilidade de abrir mão da revogação do decreto de homologação em troca de projetos de desenvolvimento. "Nós queremos a garantia da cidadania", frisou Marcolino. Segundo ele, os representantes do Governo Federal não quiseram ir ao Flexal, temendo alguma manifestação mais violenta. "Eles estavam com medo de ficar presos no local", disse.
Desapontado, o tuxaua Danilo Roberto Afonso, da maloca Monte Muriá II, lembrou que os 38 guerreiros despachados para o Flexal estão prontos para o enfrentamento. "A gente não sai para lutar fora, mas na nossa casa estamos prontos para matar ou morrer", ressaltou.
Um dos participantes disse à Folha que os enviados de Brasília não têm habilidade para negociar situações críticas como a vivida na aldeia Flexal. "Eles são despreparados, não conhecem a realidade indígena e queriam impor um modelo de negociação inadequado para a situação", comentou. A reunião foi tensa e em vários momentos os ânimos se acirraram.
O superintendente da Polícia Federal explicou que não há concessão para a liberação dos agentes. " Não teve nenhuma solicitação de troca. Não é resgate. Se tiver moeda de troca, configura-se um seqüestro", justificou.

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