VOLTAR

Governador de Rondônia e MMA fecham acordo para Flona Bom Futuro

Amazonia.org.br - www.amazonia.org.br
Autor: Bruno Calixto
03 de Jun de 2009

O governador Ivo Cassol fez valer a chantagem com o Governo Federal e conseguiu fazer um acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para legalizar as cerca de 15 mil famílias que vivem na Floresta Nacional (Flona) Bom Futuro. O governador disse que só daria a licença estadual para a Usina Hidrelétrica de Jirau se o MMA aceitasse fazer uma troca entre a Flona e unidades de conservação estaduais.

Com o acordo, a área da Flona Bom Futuro, hoje de responsabilidade da União, será entregue ao governo do estado, que legalizará a situação das famílias que vivem lá. Essas famílias, entretanto, são acusadas pelo movimento ambientalista de Rondônia de terem invadido a unidade de conservação e de utilizar a área para criar mais de 40 mil cabeças de gado.

Segundo o relatório "O fim da floresta", produzido pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) no ano passado, a Flona Bom Futuro sofre invasões desde o início do ano 2000. Essas invasões tinham o objetivo de retirar madeira ilegal da unidade de conservação e promover o loteamento da Flona para agricultores e fazendeiros.

Com a troca, passará para o domínio da União três unidades de conservação que são hoje estaduais. Parte dessas Ucs, inclusive, será alagada pelo usina de Jirau.

O acordo foi assinado pelo ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Rômulo José Fernandes Barreto Mello e o governador de Rondônia Ivo Cassol.

A troca

O acordo, publicizado hoje pelo portal de notícias Rondônia Agora, define que a Flona Bom Futuro passe para a responsabilidade do governo do Estado. No território que é hoje a Flona será criado uma Área de Proteção Ambiental de 70 mil hectares, região onde se encontra, atualmente, grileiros que possuem mais de 40 mil cabeças de gado; uma Floresta Estadual de 70 mil hectares. O território restante, de 132 mil hectares, formará uma Unidade de Conservação Federal sob administração do ICMBio.

Com a troca, as Unidades de Conservação Estadual Floresta Estadual Rio Vermelho A e B, Estação Ecológica Serra dos Três Irmãos e Estação Ecológica Mujica Nava, num total aproximado de 180 mil hectares, passarão para a responsabilidade do ICMBio.

O acordo define que sejam estabelecidas regras para impedir desmatamentos, exceto no local em que se destinará terras paras as famílias que atualmente ocupam a Flona Bom Futuro. Segundo o acordo, as partes têm até 90 dias para cumprir a permuta, que pode ser prorrogado por mais 90 dias.

Na opinião de Brent Millikan, coordenador da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, a proposta feita pelo governo de Rondônia e aceita pelo MMA é uma loucura. "É uma proposta indecente que segue a lógica de 'deixa que eu continue devastando o que é seu e em troca eu deixo você devastar o que é meu'", afirma. Segundo ele, as reservas estaduais não são legalmente do Estado de Rondônia, já que a União não repassou essas terras para o poder estadual.

"A Flona, criada em 1988, nunca foi efetivamente implantada pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais]. Este sempre foi conivente às invasões. A Flona é um produto da omissão do governo de Rondônia e do instituto", afirma Millikan.

Ilegalidades

Em entrevista ao site Amazonia.org.br no início de maio, o advogado especializado em meio ambiente Fernando Jacob Netto disse que uma troca desse porte é ilegal. Segundo Netto, o governo do estado não pode utilizar uma unidade de conservação como moeda de troca para aprovar a licença de um empreendimento.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.