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Gestores de Projetos Indígenas

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Juracy Xangai
02 de Mar de 2006

Está começando a acontecer a auto-suficiência dos povos da Amazônia,
tornados dependentes da Funai e ONGs

Capacitar lideranças indígenas para que saibam elaborar projetos e
como captar recursos para executa-los a fim de melhorar as condições
de vida em suas aldeias de modo a torna-las mais auto suficientes.
Esse é o objetivo principal do trabalho que vem sendo executado nos
últimos três anos pelos Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas
(PDPI).

Quatro índios acreanos das etnias shanenawa, machinéri, yawanawá e
asheninka acabam de concluir em Manaus o curso de Formação de Gestores
de Projetos Indígenas, que teve duração de um ano, período em que
receberam bolsa de R$ 500,00 por mês para que se dedicassem
exclusivamente aos estudos. De volta ao Acre eles se preparam para
repassar aos demais de suas aldeias ou a outros povos o que aprenderam.

"Temos agora lideranças indígenas prontas para elaborar projetos e
conseguir recursos para suas aldeias. A importância disto é que ao
invés dos técnicos, eles também são indos, falam a mesma linguagem e
respeitam os mesmos valores, assim os novos projetos serão mais
voltados ao que a comunidade realmente deseja e que todos vão ajudar a
levar adiante. Isso é um passo muito importante para que as
comunidades indígenas conquistem sua auto-suficiência e possam
planejar sozinhas o futuro de sua gente com seus costumes e
identidade", explicou o coordenador do PDPI para o Acre, Alexandre
Goulart de Andrade.

Ao mesmo tempo, anunciou que a Secretaria Extraordinária dos Povos
Indígenas (Sepi) está com negociações bastante avançadas para que seja
realizado outro curso para a formação de gestores, com a mesma
metodologia e qualidade do realizado em Manaus, mas direcionado
específicamente para formação de indígenas do Estado do Acre. O PDPI é
um componente do sub-programa de Projetos Demonstrativos Ambientais
(PDFA), vinculado à Diretoria de Agroextrativismo e Desenvolvimento
Sustentáv el (DADS)da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS)
do Ministério do Meio Ambiente(MMA). O PDPI é financiado pelo governo
da Alemanha através do banco KFW e da agência de cooperação GTZ, e,
pelo governo da Inglaterra através do DFID.

Aprendendo a ser livre - Dois índios das nações Shanenawa e yawanawá e
duas índias asheninka e manchineri completaram o curso. Três deles
falam sobre sua experiência, o que aprenderam e o que pretendem fazer
com esse conhecimento em suas comunidade. A única que já havia
retornado para sua aldeia era Alexandra Asheninka da aldeia de
Apywtxa, margem do rio Amôniaem Marechal Thaumaturgo.

Auriscélio Shanenawa tem 31 anos, seis filhos e vivia na aldeia Morada
Nova dentro da Terra Indígena Katuquina/Kaxinawádo rio Envira que está
localizada em frente à cidade de Feijó sofrendo o impacto direto da
diferença de cultura desde os tempos da ocupação. Os shanenawa se
distribuem em quatro aldeias que juntas somam cerca de 450 membros
dessa etnia.

Ele recorda que no ano 200 participou do primeiro curso oferecido pelo
PDPI a fim de que as lideranças aprendessem a preencher os formulários
para a elaboração dos projetos e o por quê das exigências burocráticas
que eles continham. Desta vez, além de muito mais demorado, o curso
deu uma visão mais abrangente sobre os caminhos a serem seguidos na
elaboração de uma proposta a fim de que tenham sucesso na busca do
financiamento.

"Do ponto de vista técnico tive uma transformação total. Aprendi que
antes de elaborar o projeto é preciso saber o que quer, então fazer um
diagnóstico da situação real, apontar prioridades e entender que nem
tudo pode ser resolvido imediatamente, há coisas que exigem soluções
de curto, médio e longo prazo para que dêem certo", explica Auriscélio
para então destacar que: "O ideal é elaborar os projetos com as
comunidades sendo ouvidas, participando e dando opiniões desde o
primeiro momento para que assumam a responsabilidade pelo sucesso ou o
fracasso dele, assim todo mundo se esforça mais para dar certo".

Ao invés de voltar a viver na aldeia, Auriscélio decidiu que vai ficar
em Rio Branco para coordenar a formação de uma central de elaboração
de projetos destinados a atender as necessidades do povo shanenawa,
como também, a outras comunidades que necessitem de seus serviços.
"Neste momento, além de projetos para a comunidade shanenawa nós já
estamos elaborando um para financiar o reflorestamento de uma área
degradada pertencente à Associação Espírita do Santo Daime de Feijó.
Neste curso nós aprendemos o pulo do gato que é estudar bem os editais
e ter flexibilidade para atender as exigências dos financiadores".

Aprendendo a fazer negócios

Para ir de Tarauacá até a aldeia Nova Esperança onde vive com sua
família, Macilvo Yawanawá, 22 anos, pai de um filho tem de viajar três
horas de carro, subir oito horas de barco pelo rio Gregório e caminhar
mais um dia.

"Já participei de muitos cursos, mas nada se compara à visão que
aprendi com este. Além de saber como elaborar, é preciso entender que
os recursos podem ser externos, ou seja vindos de fora da aldeia, ou
internos, da própria comunidade e que os dois precisam ser tratados
com muita sabedoria e responsabilidade. Para isso a principal
ferramenta é a participação da comunidade e o planejamento para evitar
opu diminuir os impactos negativos do que estivermos projetando", adverte.

Neste momento Macilvo está ajudando na elaboração do projeto de
renegociação do contrato com a Aveda, empresa que compra o corante de
urucum produzido pela comunidade. Seu contrato venceu em dezembro e
agora está sendo renovado em novos termos mais favoráveis aos índios.
A Aveda financiou 80% dos custos do filme que conta a história do povo
yawanawá.

Outro projeto em que ele está trabalhando é o de escrever um livro em
que conta a história do contato do povo yawanawá com a cultura dos
negócios. A compra e venda de produtos causou mudanças de
comportamento e na visão que eles tinha sobre o mundo. "Vamos fazer
uma análise dos impactos positivos e negativos da chega dos negócios à
nosso comunidade".

Estimulando a iniciativa indígena

Gracinha Machineri tem 38 anos, cinco filhos e não nasceu índia,
tornou-se membro da aldeia Senegal que está localizada na Terra
Indígena Mamoadate, cabeceira do Iaco na fronteira com o Peru bem
acima de Assis Brasil, quando casou se com "Tóia Manchinéri", uma das
principais lideranças daquele povo.

"Sempre militei na esquerda, filiada ao PT ajudei a formar a Cut com o
Lhé, Siba e outros. Estávamos no casarão no dia 22 de dezembro de 1988
quando chegou a notícia de que tinham matado o sindicalista Chico
Mendes, fomos para lá, lá conheci o Tóia, a gente se deu bem e depois
nos casamos, fui pra aldeia".

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