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A gente não quer só comida

A Crítica - https://www.acritica.com/
Autor: RADLER, Juliana
12 de Nov de 2023

A gente não quer só comida
Chega de respirar fumaça e engolir mentira [...] Precisamos ser movidos pelo interesse público. Queremos transporte público, segurança, saúde e nossos filhos numa escola pública de qualidade

Juliana Radler

12/11/2023

Chega de respirar fumaça e engolir mentira. Cansamos do jogo de empurra-empurra sobre a responsabilidade do desmatamento, das queimadas e do ar insalubre há mais de dois meses em Manaus. Precisamos de transparência e ação pública na proteção do meio ambiente e das florestas do Amazonas. E prioridade máxima para zerar o desmatamento e promover as políticas que mantenham a floresta em pé.

Graças ao trabalho de jornalistas investigativos de meios como The Intercept e De Olho nos Ruralistas, sabemos o quanto da fumaça de Manaus veio dos incêndios criminosos nos municípios de Autazes e Careiro, onde agropecuaristas de gado e de búfalos incendiaram a floresta amazônica para fazer pasto. Ainda no lema do passar a boiada dos tempos das trevas. Sem falar no desmatamento avassalador no Sul do Amazonas. Será mesmo que a fumaça vem do Oeste do Pará?

Precisamos ser movidos pelo interesse público. Queremos transporte público, segurança, saúde e nossos filhos numa escola pública de qualidade. Como dizia o antropólogo Darcy Ribeiro, o homem das utopias. A escola pública é a maior invenção da humanidade. Mas, com a estiagem severa e a falta de políticas de prevenção, os ribeirinhos foram os primeiros a ser dispensados da escola. As aulas terminaram em outubro, logo para quem vive na floresta e a protege. As crianças não tem culpa pelo desastre ambiental e climático, muito menos pelo despreparo negacionista dos tomadores de decisão. Mas, são as primeiras diretamente afetadas, assim como as mulheres, mães, que além de ter que cuidar da casa e da renda, têm seus filhos em casa num cenário de emergência, fome e sede.

A gente não quer viver para receber auxílio social, cesta básica, caixa d'água, uns litrinhos de gasolina e umas folhas de zinco pra cobrir a casa da chuva e deixar ela mais quente do que o deserto do Saara. Aliás, precisamos agir com perspectiva de longo prazo e planejamento de Estado para que a floresta amazônica continue sendo uma floresta. Senão, mais rápido do que imaginamos, viveremos no deserto amazônico Ou pior, morreremos. Porque ninguém vive de beber e comer areia num calor de 40 graus.

Todo tipo de contaminação, sujeira e lixo se espalham pelos rios e igarapés de Manaus e demais municípios amazonenses. Vivemos um colapso ambiental, climático e sanitário, que é maquiado pelas autoridades e revelado na crise. Além dos vestígios de antigas civilizações, como os petróglifos milenares que emergiram na descida do rio Negro provando a presença ancestral indígena na região, também veio à tona o lixo acumulado pela falta de educação e cuidado da sociedade de consumo.

Precisamos ser movidos pelo interesse público. Queremos transporte público, segurança, saúde e nossos filhos numa escola pública de qualidade. Como dizia o antropólogo Darcy Ribeiro, o homem das utopias. A escola pública é a maior invenção da humanidade. Mas, com a estiagem severa e a falta de políticas de prevenção, os ribeirinhos foram os primeiros a ser dispensados da escola. As aulas terminaram em outubro, logo para quem vive na floresta e a protege. As crianças não tem culpa pelo desastre ambiental e climático, muito menos pelo despreparo negacionista dos tomadores de decisão. Mas, são as primeiras diretamente afetadas, assim como as mulheres, mães, que além de ter que cuidar da casa e da renda, têm seus filhos em casa num cenário de emergência, fome e sede.

Mais de 6,8 mil kits de merenda escolar foram entregues a alunos do interior e da capital do Amazonas durante a estiagem deste ano (Divulgação/Seduc-AM)

Mais de 6,8 mil kits de merenda escolar foram entregues a alunos do interior e da capital do Amazonas durante a estiagem deste ano (Divulgação/Seduc-AM)

A gente não quer viver para receber auxílio social, cesta básica, caixa d'água, uns litrinhos de gasolina e umas folhas de zinco pra cobrir a casa da chuva e deixar ela mais quente do que o deserto do Saara. Aliás, precisamos agir com perspectiva de longo prazo e planejamento de Estado para que a floresta amazônica continue sendo uma floresta. Senão, mais rápido do que imaginamos, viveremos no deserto amazônico Ou pior, morreremos. Porque ninguém vive de beber e comer areia num calor de 40 graus.

Todo tipo de contaminação, sujeira e lixo se espalham pelos rios e igarapés de Manaus e demais municípios amazonenses. Vivemos um colapso ambiental, climático e sanitário, que é maquiado pelas autoridades e revelado na crise. Além dos vestígios de antigas civilizações, como os petróglifos milenares que emergiram na descida do rio Negro provando a presença ancestral indígena na região, também veio à tona o lixo acumulado pela falta de educação e cuidado da sociedade de consumo.

INJUSTIÇA CLIMÁTICA

Enquanto os ricos se protegem da emergência climática nos arranha-céus ou nos condomínios de luxo, o ribeirinho amazonense tá com fome e tá com sede. E o poder público se vangloria de adiantar uns trocados de auxílios, que mal dá pra comer. Enquanto a necropolítica impera, a violência impulsionada pelo abismo social nas só aumenta, deixando Manaus na terceira posição de capital mais violenta do Brasil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Manaus tem a menor rede de ciclovias do Norte do Brasil, não tem metrô e nem mesmo uma rede pública de ônibus que dê conta das necessidades de mobilidade dos manauaras. O Amazonas não tinha leito de UTI fora da capital e foi por isso que Manaus foi a primeira cidade brasileira a ter o seu sistema de saúde colapsado na pandemia de Covid-19 Isso sem falar nos péssimos indicadores de saneamento. A pergunta é como um estado tão grande, com tanto potencial, tem atrasos tão profundos?

Como cantava Gonzaguinha, também na redemocratização. A gente quer viver pleno direito. A gente quer viver todo respeito. A gente quer viver uma nação A gente quer é ser um cidadão. Sem diminuir as desigualdades sociais e melhorar as condições de vida da população, a Amazônia continuará sendo derrubada.

Juliana Radler é jornalista com especialização em meio ambiente e analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA)

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