VOLTAR

GE negocia entrada no consórcio da Ferrogrão

Valor Econômico, Empresas, p. B1
29 de Jun de 2017

GE negocia entrada no consórcio da Ferrogrão

Daniel Rittner

A multinacional americana General Electric negocia sua entrada no consórcio que pretende erguer a Ferrogrão. O projeto já atraiu grandes tradings do agronegócio, mas elas se dispõem a bancar não mais de 40% do investimento de R$ 12,6 bilhões e faltam outros sócios para aportar o dinheiro restante. A GE deve entrar com 8%. Com isso, ganharia preferência no fornecimento de locomotivas e vagões para a ferrovia, que deve ligar o município de Sinop (MT) a Miritituba (PA).
Há um acordo de confidencialidade em torno das negociações. Além da Estação da Luz Participações (EDLP), que atua como estruturadora do projeto, o consórcio tem como âncoras cinco tradings: ADM, Amaggi, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus. Elas têm interesse na construção da ferrovia por causa da queda nos custos de escoamento pela região Norte do país, mas veem com cautela a possibilidade de imobilizar todo o capital suficiente para o projeto. Outros 12% de participação estão sendo negociados com um fundo americano, conforme antecipou o Valor no mês passado.
Uma das formas aventadas pelo governo para preencher o que falta no consórcio e viabilizar definitivamente a Ferrogrão é trazer dinheiro chinês. O empreendimento deve estar nas prioridades do Fundo Brasil-China de Cooperação para Expansão da Capacidade Produtiva, que começou a operar no início desta semana. Esse fundo receberá aportes de até US$ 20 bilhões - dos quais US$ 15 bilhões virão do Claifund, instituição oficial chinesa para financiamento na América Latina.
O presidente da EDLP, Guilherme Quintella, pretende iniciar em julho um "road show" para apresentar o projeto a potenciais investidores na Europa, Ásia, Estados Unidos e Oriente Médio.
Os estudos econômicos para a abertura da audiência pública que precede o leilão estão praticamente prontos. A tendência, entretanto, é dar uma segurada no processo. Os técnicos do governo acreditam que isso permite ao consórcio ganhar um pouco mais de tempo para se fechar e evita a contaminação do projeto pelo agravamento da crise política. "Vamos guardar um pouquinho", diz uma fonte envolvida nos preparativos da concessão.
Há, contudo, uma mudança importante nos bastidores. A intenção inicial do governo era conceder a ferrovia por 65 anos e dar um período de 30 a 40 anos de exclusividade na operação dos trilhos. Depois, a linha seria liberada para os operadores ferroviários independentes, conhecidos no mercado pela sigla OFI. Trata-se de uma figura ainda incipiente no Brasil, mas que deve se fortalecer com a ampliação da rede. São empresas que detêm frota própria e prestam serviços de transporte ferroviário usando a malha de outros.
O consórcio idealizador da Ferrogrão - batizado como Pirarara em alusão a um peixe de água doce típico do Amazonas - combate essa ideia desde o início e afirma que só existe viabilidade no empreendimento se houver exclusividade na operação durante toda vigência do contrato.
Antes resistente aos argumentos do consórcio, o governo está agora inclinado a barrar OFIs na ferrovia.
Um técnico lembra que, se o preço do frete ferroviário estiver alto demais, uma alternativa real aos produtores de grãos será escoar suas cargas pela BR-163. A conclusão dos trabalhos de pavimentação da rodovia está listada como prioridade no Projeto Avançar, prestes a ser lançada pelo presidente Michel Temer, com foco em obras de infraestrutura.
A flexibilização com o pedido de exclusividade nas operações reflete os temores no governo de falta de interessados para compor o consórcio e viabilizar a concessão. O Palácio do Planalto desconfia que as tradings, no fundo, podem não entrar como sócias porque têm muito capital de giro, mas pouca autonomia de suas matrizes para colocar "equity" em um projeto de longo prazo.
Além disso, espera-se uma batalha na área ambiental para a obtenção do licenciamento das obras.
Mesmo assim, o governo está disposto a soltar o edital da Ferrogrão no segundo semestre, em uma tentativa de avançar nas discussões do empreendimento.
Procurado pelo Valor, o consórcio Pirarara negou a existência de tratativas com a GE. A General Electric, por meio de sua assessoria, disse que "não comenta especulações de mercado". "Com 97 anos de atuação no Brasil, a empresa tem sido uma das grandes parceiras da infraestrutura nacional e segue focada em continuar desenvolvendo avanços do país."

Valor Econômico, 29/06/2017, Empresas, p. B1

http://www.valor.com.br/empresas/5020618/ge-negocia-entrada-no-consorci…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.