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Gasoduto revira o passado paranaense

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
Autor: Érica Busnardo
29 de Mai de 2005

As escavações dos 207 quilômetros do gasoduto Bolívia-Brasil que passam pelo Paraná remexeram o passado do estado e trouxeram detalhes de povos indígenas que viveram na região há cerca de 2 mil anos até a época do descobrimento do Brasil. Os achados ocorreram há oito anos, mas o material catalogado nas pesquisas só veio à tona em 2005, com a publicação do livro "O Programa de Salvamento Arqueológico do Gasoduto Bolívia-Brasil", organizado pela Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S/A (TBG), empresa responsável pelo transporte do gás natural no solo brasileiro. O livro foi lançado no início do mês - ainda não há previsão de quando ele estará disponível aos paranaenses.

Além do Paraná, as equipes de arqueólogos que trabalharam no projeto descobriram sítios em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que também fazem parte do trajeto do gasoduto. Durante os anos de pesquisas e escavações, que duraram de 1997 e 1999, foram encontrados mais de 200 sítios arqueológicos nos 2,5 mil quilômetros do traçado do gasoduto no Brasil.

São inscrições rupestres, cerâmicas, ossos e cemitérios que podem ter até oito mil anos de idade e possuem um enorme valor histórico. "Pode ser que surjam ainda mais coisas. O material recolhido ainda está sendo estudado", afirma o presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira, professor Gilson Rodolfo Martins, que coordenou os trabalhos no Mato Grosso do Sul.

Cerâmica

No Paraná, os arqueólogos encontraram sítios cerâmicos, classificados dentro das tradições das etnias indígenas tupi-guarani e itacaré. Na Região Sul do país, o estado apresentou o maior número de sítios. De acordo com a arqueóloga que coordenou as pesquisas no Paraná, a professora Maria Cristina Scatamacchia, ainda não foi possível definir a data exata dos achados. "A descoberta preenche lacunas e contribui para entender o processo de ocupação no Paraná", afirma a professora. O trabalho no solo paranaense durou dois anos e envolveu quatro arqueólogos.

Trajeto

O gasoduto vem de São Paulo e entra no Paraná por Doutor Ulysses (no Vale da Ribeira), passa por 13 municípios, e sai para Santa Catarina por Tijucas do Sul (sul do estado).

Em Cerro Azul (Vale da Ribeira) foram encontrados pinturas rupestres, pertencentes à tradição ceramista itararé. Segundo Maria Cristina, a maioria das figuras encontradas é de desenhos geométricos ou animais, pintados de vermelho. "A área paranaense revelou povoamento intenso e antigo", diz.

Avanço

Para os 20 pesquisadores que participaram do projeto nos cinco estados de passagem do gasoduto, as descobertas representam um grande avanço arqueológico. Elas poderão embasar outras pesquisas e teses que servirão de ponto de partida para mais buscas arqueológicas semelhantes. Para o professor Martin, os estudos e a identificação dos sítios só foram possíveis porque houve o investimento privado nas pesquisas.

"Jamais faríamos tantas descobertas somente com o dinheiro para projetos acadêmicos", afirma o professor. A TGB dispôs US$ 30 milhões para os projetos socioambientais da construção do gasoduto. A empresa não informou a porcentagem do investimento foi para a pesquisa dos sítios arqueológicos.

A TBG editou três mil volumes do livro com as descobertas. Eles não serão vendidos em livrarias, mas poderão ser encontrados em universidades, bibliotecas e departamento de pesquisa de órgãos públicos.

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