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Garimpeiros fazem índio refém após chacina em RO

FSP, Brasil, p.A9
11 de Abr de 2004

Garimpeiros fazem índio refém após chacina em RO
Cinta-larga foi agredido e ficou preso em praça de Espigão d'Oeste

RUBENS VALENTE, DA REPORTAGEM LOCAL

Revoltados com uma chacina ocorrida na terra indígena Roosevelt, em Espigão d'Oeste (a 534 km de Porto Velho, em Rondônia), garimpeiros seqüestraram, agrediram e ameaçaram linchar ontem um índio cinta-larga, identificado como "Márcio Cinta-Larga", que passeava na cidade.O índio, com sinais de sangue no corpo, ficou amarrado a uma árvore da praça central da cidade por cerca de cinco horas e meia. Os garimpeiros só aceitavam libertá-lo sob condição de que ocorresse uma ampla busca terrestre a outras possíveis vítimas na reserva. Eles dizem que o número de corpos é maior do que os três localizados até agora pela Funai (Fundação Nacional do Índio) -a maioria fala em 12, outros, em 20 mortes na reserva.Às 18h, o cinta-larga foi tirado da árvore e levado para o ginásio de esportes da cidade. O tenente-coronel da Polícia Militar Adilberto Maciel, que chefiou as negociações com os garimpeiros, anunciou ter fechado um acordo pelo qual o índio ficará sob custódia da Polícia Federal. Em troca, os garimpeiros integrariam, como guias, uma equipe de busca terrestre que poderia, segundo a PM, começar ainda hoje.A autorização para a entrada na área de policiais civis, militares e federais, que vinha sendo negada pela Funai, foi pedida à Justiça Federal pela promotora de Justiça de Espigão Conceição Baena.A expectativa do coronel Maciel é que a ordem judicial pudesse ser dada ainda ontem à noite.Após o seqüestro, 30 policiais federais foram deslocados às pressas de Porto Velho, Ji-Paraná e Vilhena para tentar impedir novas agressões ao cinta-larga.Policiais civis e militares armados de espingardas e escopetas tiveram de fazer um cordão de isolamento em torno da árvore, porque "5.000 pessoas", segundo a estimativa do comandante da Polícia Militar da cidade, Firmino Aparecido, se aglomeraram no local. Ao todo, 120 PMs foram à praça. Alguns garimpeiros ameaçavam linchar o cinta-larga.Segundo a Polícia Civil, cerca de 400 garimpeiros estavam nas imediações da praça. Outras mil pessoas estavam, no início da noite, perto do ginásio de esportes.A Funai anunciou anteontem ter localizado três corpos perto do rio Roosevelt, que não haviam sido resgatados até o final da tarde de ontem porque a área é de difícil acesso. Um helicóptero da PF foi ontem para a área. O ataque dos índios ocorreu por volta das 11h da última quarta-feira, contra 60 homens que faziam garimpo clandestino de diamante.AgressãoO índio, que teria 30 anos, foi rendido pelos garimpeiros quando passava perto da delegacia da Polícia Civil, por volta das 12h30 de ontem. Lá estavam cerca de 50 garimpeiros e familiares de garimpeiros desaparecidos ou dados como mortos no ataque ocorrido na reserva. Desde quinta-feira eles tentam entrar na reserva para localizar os corpos.O índio foi retirado de um táxi e recebeu socos e chutes ao longo de cinco quadras, até ser atado, com uma corda fina, a uma árvore na praça municipal.No início da noite, correu um boato entre os garimpeiros de Espigão de que 150 índios estavam indo da reserva para a cidade, numa distância de 100 km, para tentar libertar o cinta-larga. O delegado da Polícia Civil Raimundo Souza Filho disse que a Polícia Militar montou barreiras nas principais entradas da cidade para impedir a possível chegada dos índios. A viagem dos índios não foi confirmada.O superintendente da PF em Porto Velho, Marco Moura, disse que um helicóptero e cinco agentes federais passaram o dia tentando resgatar os três corpos na terra indígena. Com apoio de funcionários da Funai, foi aberta uma clareira na mata para o pouso do helicóptero.

FSP, 11/04/2004, p. A9

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