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Garimpeiros capturam um índio e o mantêm amarrado em praça pública

O Globo, O Pais, p.14
11 de Abr de 2004

Garimpeiros capturam um índio e o mantêm amarrado em praça pública

Cinta-larga foi solto após passar horas sendo ameaçado de morte, em Rondônia

Rodrigo Rangel e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Um grupo de 250 garimpeiros capturou, espancou e amarrou um índio cinta-larga numa árvore na praça central de Espigão dOeste, em Rondônia, na tarde de ontem. Armados de paus e foices, os garimpeiros ameaçavam matar o índio caso não tivessem permissão para entrar na reserva Roosevelt, onde, na quarta-feira, os índios mataram invasores que exploravam ilegalmente o garimpo de diamantes.

O índio foi solto no fim da tarde, em resultado de negociação conduzida pela Polícia Federal, depois de passar quase seis horas amarrado.

— A situação é muito tensa. Estamos tentando negociar, mas não há qualquer hipótese de os garimpeiros entrarem na reserva. Isso não é permitido. E, se eles fossem para lá, poderiam entrar em choque com os índios e haver mais derramamento de sangue — afirmou o superintendente da PF em Rondônia, Marco Moura.

Presidente da Funai protesta contra humilhação de índio

O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, considerou a prisão do índio em praça pública, diante de um grupo de policiais civis e militares, um absurdo. Para ele, os policiais não deveriam ter permitido que o índio fosse submetido a tal humilhação.

— É muito grave. Não podem deixar que isso aconteça — afirmou Mércio.

Os policiais alegam que estavam em minoria em relação aos garimpeiros e por isso tiveram dificuldades para controlar a situação. O agente Anderson Silva, da Delegacia de Polícia Civil de Espigão, disse que temia o agravamento da situação à noite. As polícias Civil e Militar tentavam bloquear as entradas da cidade para impedir a entrada de índios que viriam resgatar o colega.

PM PEDE REFORÇO A QUARTÉIS PARA CONTROLAR CONFLITO

Resgate de corpos ainda não foi feito porque a região é de difícil acesso

BRASÍLIA. O comandante do pelotão da Polícia Militar de Espigão DOeste, Aparecido Firmino dos Santos, pediu reforço a quartéis vizinhos para controlar a situação. A cidade tem apenas 50 policiais militares, número pequeno para fazer frente aos garimpeiros.

O deputado Eduardo Valverde, do PT de Rondônia, pediu à direção da Polícia Federal em Brasília que também envie reforço para a área.

Mau tempo na região dificulta ação da PF

A PF já confirmou que foram encontrados pelo menos três corpos dentro da reserva Roosevelt, mas os garimpeiros dizem que o número de mortos é bem maior. Os cadáveres ainda não foram resgatados.

A reserva fica em plena Floresta Amazônica, em área de mata fechada, o que dificulta o acesso ao local do massacre. Os corpos deverão ser resgatados de helicóptero, mas o mau tempo na região está atrasando a operação. (Rodrigo Rangel e Jailton de Carvalho)

O Globo, 11/04/2004, p.14

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