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Fundo estrangeiro rebate Mourão, vê diálogo 'vazio' e cobra política ambiental

FSP - https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br
Autor: AMARAL, Ana Carolina
27 de Jan de 2021

Fundo estrangeiro rebate Mourão, vê diálogo 'vazio' e cobra política ambiental

Ana Carolina Amaral

"O setor privado sozinho não vai resolver os desafios climáticos", afirma Eric Pedersen, diretor de investimentos responsáveis do Nordea Asset Management, fundo dos países escandinavos - Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.
"Os governos, no mínimo, devem fornecer uma estrutura regulatória para encorajar práticas corporativas sustentáveis", ele pontua.
Em entrevista ao blog, Pedersen rebateu as afirmações feitas pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que se pronunciou nesta quarta (27) durante o Fórum Econômico Mundial.
"É crucial que o setor privado tome a dianteira no financiamento de pesquisas e programas científicos para a região. Governos, especialmente no cenário de economia pós-pandêmica, não terão superávits disponíveis para direcionar grandes quantias para este tipo de atividades", disse o vice-presidente no painel "Financiando a transição da Amazônia para uma bioeconomia sustentável".
Segundo Pedersen, somente a aplicação robusta e consequente de políticas sociais e ambientais "garantirão acesso eficiente e sustentável aos mercados financeiros no longo prazo".
"Políticas de combate ao desmatamento e proteção aos direitos humanos, com consequências reais para os atores econômicos que não as cumprem, são fundamentais para o gerenciamento dos riscos financeiros enfrentados pelos investidores que agem de boa fé", conclui o diretor do Nordea.
O fundo dos países escandinavos está presente em 19 países e administrou em 2019 o total de € 554,8 bilhões (R$ 2,9 trilhões).
Desde que o governo Bolsonaro passou a flexibilizar as políticas de controle ambiental, ainda em 2019, o fundo deixou de adquirir títulos da dívida soberana do país e mantém em quarentena os ativos adquiridos anteriormente.
No entanto, após mais de seis meses de diálogo direto com Mourão sem resultados práticos no controle do desmatamento, os investidores passaram a expressar cansaço e descrença.
"Se esse é um diálogo que pode seguir eternamente sem haver consequência, ele se torna vazio", afirma Pedersen. "Nós não vamos seguir assim indefinidamente se não vermos nenhum progresso".
Em 2020, o desmatamento na Amazônia subiu 9,5% em relação ao ano anterior, quando já havia batido um recorde, tendo disparado em 34% na transição dos governos Temer e Bolsonaro. Ao longo do último ano, nenhuma nova multa ambiental foi cobrada pelo governo federal.
Além do fundo Nordea, outros 34 fundos de investimento, representando mais de US$4,6 trilhões (R$ 24,8 trilhões) têm cobrado conjuntamente o governo brasileiro pelos resultados ambientais, sob coordenação do Storebrand Asset Management. A iniciativa deve buscar diálogo com outros países com desafios no controle do desmatamento, como a Indonésia.
Os investidores citam a proximidade do ponto de não-retorno no desmatamento na Amazônia, alertado por cientistas, e frisam que a preocupação é com o risco financeiro. "Se a gestão dos recursos naturais é tal que talvez em 20, 30 anos tudo vai virar pó, isso pode ameaçar a capacidade de um país pagar a dívida", afirma Pedersen.

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