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Funasa não freia mortes de índios no Amazonas

FSP, Brasil, p. A17
22 de Jun de 2008

Funasa não freia mortes de índios no Amazonas
Dez crianças morreram em apenas um mês no Vale do Javari, dizem indígenas
Segundo diretor do órgão, problema é acesso a aldeias; para tentar deter protestos, Funasa quer descentralizar gestão da saúde indígena

Claudio Dantas Sequeira
Da reportagem local

Lideranças indígenas do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, entregaram à Funasa (Fundação Nacional de Saúde) uma carta em que denunciam a morte de 12 indígenas, sendo dez crianças, em menos de um mês. Os óbitos, segundo o documento, ocorreram em plena ação emergencial da Funasa, entre 8 de maio e 11 de junho.
"No Vale do Javari somos apenas 3.700 índios, e esse número tem se mantido no mesmo índice há muito tempo devido à alta taxa de mortalidade", informam os indígenas.
O diretor do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, confirmou à Folha ter recebido a denúncia. Lamentou as mortes e admitiu que o atendimento no Vale do Javari é precário. "O acesso é muito difícil. Nossa equipe de saúde levou 15 dias para chegar ao Alto Curuçá."
Segundo Guenka, a Funasa também tem dificuldades para contratar médicos. "Em Atalaia do Norte temos só dois médicos. Nas aldeias é pior", afirmou. O dirigente ressaltou que foram tomadas medidas de controle e prevenção de hepatite B, tuberculose e malária.
A taxa de mortalidade infantil entre os índios está em 48 para cada 1.000, enquanto entre os brancos esse índice é de 21 em cada 1.000. "Nunca conseguiremos equiparar as taxas de mortalidade dos índios com a dos brancos. Além disso, o crescimento vegetativo indígena ainda é grande (5,5 filhos por família) e isso faz com que as crianças estejam mais expostas", avaliou.
Guenka comemorou a reunião da Comissão Nacional de Política Indigenista, na última quinta. Presente ao evento, o presidente Lula deu prazo de dois meses para que haja avanços na questão da saúde e na demarcação de terras.
O presidente da Funasa, Danilo Forte, apresentou proposta de descentralização do atendimento à saúde do índio, a partir do fortalecimento dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, que terão mais autonomia. Mas a administração da saúde indígena seguirá nas mãos dos brancos. Cerca de 800 funcionários serão contratados para a gestão.

FSP, 22/06/2008, Brasil, p. A17

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