VOLTAR

Funasa investiga morte de bebê

O Progresso
Autor: Maria Lucia Tolouei
27 de Fev de 2007

Mãe diz que falta comida e água encanada; Funasa rebate em nota distribuída à imprensa

DOURADOS - A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) está reavaliando o histórico médico do menino de dez meses que morreu domingo, em casa, na Aldeia Bororó, conforme noticiou O PROGRESSO na edição de ontem. No laudo assinado pelo médico Raul Grigoletti, consta que a causa da morte é a desnutrição grave e caquexia (debilidade geral).
Em entrevista anteontem ao jornal, a mãe de Cleison, Salete Benites, de 20 anos, contou que o marido está desempregado há três meses e eles estão passando fome. Salete conta que vem alimentando a família com caldo grosso de mandioca e agora teme que o outro filho, de quatro anos, morra também.

A tia do garoto, Célia Maciel, confirma a informação e reclama também que muitas famílias da Bororó continuam sem água nas torneiras. "A gente é obrigada a andar quase um quilômetro para buscar água na escola Araporã e lavar roupa longe daqui. A gente perde o peso da criança enquanto lava roupa no riacho", comenta a indígena. Durante reportagem na Bororó, O PROGRESSO fotografou uma criança indígena bebendo água num vasilhame de agrotóxico.

Com relação a causa da morte da criança, a Funasa informou ontem que técnicos estão analisando "o motivo pelo qual os alimentos recebidos pela família não mantiveram dentro da normalidade a situação nutricional do indígena, uma vez que não havia falta de alimentos", diz a Fundação em nota oficial.

No mesmo documento, a Fundação diz que a família da criança indígena, composta por 14 membros, recebia três cestas básicas mensalmente e as últimas entregas foram feitas no dia 9 deste mês. Em Dourados, são distribuídas três mil cestas, filtros de água, vitamina A, além dos sopões semanais.

A agente de saúde e índia guarani Priscilla Maciel explica que até novembro do ano passado, ela registrava dez casos de crianças com baixo peso. "Agora são 20, ou seja, o número dobrou depois de dezembro e janeiro, quando a entrega das cestas foi suspensa. Algumas mães não estão colaborando. Tem muitas bebendo cachaça e abandonando os filhos", diz.

O cacique Renato de Souza vai mais longe e aponta que a falta de terra para plantar detona a crise. O líder terena Laurentino Rodrigues acrescenta que mais de 50% dos homens indígenas estão desempregados e que as cestas básicas não são suficientes para sustentar as famílias que em geral são grandes.

Com relação à rede de distribuição de água encanada, a Funasa informou ainda que cinco poços estão sendo implementados nas Aldeias Bororó e Jaguapiru; dois em perfuração, num total de 120 mil metros de rede e mais de duas mil ligações domiciliares. Três estão na Bororó, onde a situação nutricional das crianças é mais crítica. Um destes, em fase final de projeto, deve iniciar o abastecimento em março.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.