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FUNAI PEDE DESCULPAS À FAMÍLIA DE APOENA

O Globo-Rio de Janeiro-RJ
12 de Out de 2004

Sertanista será enterrado hoje no Rio; investigações sobre o crime não avançam, mas latrocínio é hipótese mais forte

O corpo do sertanista Apoena Meirelles, que morreu assassinado sábado passado em Porto Velho, capital de Rondônia, foi velado ontem na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, em clima de indignação. Um grupo de caciques e pajés xavantes, índios que conviveram com o sertanista na década de 60, prestaram uma última homenagem a Apoena.

O presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, chorou muito e discursou pedindo desculpas aos familiares por ter insistido para que o sertanista, de 55 anos, já aposentado, prestasse novos serviços ao governo federal. As investigações sobre o assassinato ontem não avançaram.

- A Funai não precisa pedir desculpas. Essa era a vida de meu pai, um pacifista que se dedicou a ajudar os índios. Ele sempre falou que iria morrer cedo, com uma flechada ou uma bala no peito trabalhando pelos índios - disse a filha do indigenista, Tainá Meirelles, que vive na Suíça.

Lula lamenta morte em nota

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, representou o ministro Márcio Thomaz Bastos no velório. Barreto disse acreditar que o sertanista tenha sido vítima de latrocínio (roubo seguido de morte), mas não descartou a possibilidade de o crime ter sido encomendado.

- Foi um ato bárbaro. Os indícios, até agora, apontam para latrocínio. Mas só vamos ter clareza absoluta quando o criminoso for preso. Nada está sendo descartado. A Polícia Federal irá ajudar nas investigações - disse o secretário-executivo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou ontem nota lamentando a morte do sertanista: "Apoena foi uma importante referência para o indigenismo brasileiro. A melhor homenagem a ele é seguir na luta pela continuidade dos povos indígenas no Brasil,- compromisso inequívoco deste governo", afirma o texto do Palácio do Planalto.

Apoena foi assassinado na noite de sábado, quando deixava uma agência do Banco do Brasil em Porto Velho, onde sacou dinheiro no caixa eletrônico. Ele teria reagido a um assalto e levou dois tiros de pistola automática, no peito e na barriga. O corpo do sertanista será enterrado hoje, às 10h, no cemitério do Caju, no Rio.

Apoena estava em Rondônia coordenando os trabalhos sobre regulamentação de garimpo em terras indígenas. Ele tinha bom trânsito junto aos cintas-largas. Em 1969, ele e o pai, Francisco Meirelles, foram os primeiros homens brancos a fazer contato com a tribo. Em Rondônia, esses índios mataram em abril deste ano 29 garimpeiros que extraíam diamantes ilegalmente na reserva Roosevelt.

Apoena estaria sendo seguido

O presidente da Funai disse ontem ao GLOBO que vai assinar uma portaria concedendo poder de polícia a servidores do órgão que atuarem em áreas de conflito, como no caso de Rondônia. Dessa forma os servidores poderão dar voz de prisão, autuar e multar invasores de terras indígenas. O porte de arma não estará incluído nessa portaria. O assunto está sendo tratado no Estatuto das Sociedades Indígenas.

Servidores da Funai, que preferiram não se identificar, disseram que Apoena afirmou que estava sendo seguido nas ruas de Porto Velho, mas, segundo a assessoria da Funai, ele não deu essa informação à direção do órgão nem pediu proteção policial. Os filhos do sertanista, Tainá e Francisco, afirmaram que o pai não comentou esse assunto com a família. O presidente da Funai disse que Apoena estava providenciando exames para retirar o porte de arma.

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