VOLTAR

Funai nega que reserva do Anaro terá 40 mil hectares

Folha de Boa Vista-RR
26 de Nov de 2001

O administrador substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Roraima, Jânio Uchôa e Silva, negou que a reserva indígena do Anaro, no município do Amajari, terá 40 mil hectares, como divulgado por políticos do Estado. O antropólogo que faz a identificação da área, Jorge Manoel Costa e Souza, acredita que a participação de um profissional do Estado contribui para conter eventuais excessos na delimitação.

De acordo com Jânio Uchôa, tudo o que foi dito até agora pela classe política não passa de especulação. "Não existe esta área de 40 mil hectares. São aproximadamente 18 mil, para uma população de 60 indígenas que tradicionalmente ocupam a área".
Enquanto isso, o coordenador do Grupo Técnico que identifica a reserva indígena, Jorge Manoel, informou que faz alguns anos que a comunidade do Anaro pediu o reconhecimento da área como terra indígena da comunidade Wapixana, tradicional ocupante da região.

Disse ainda que os levantamentos, o conhecimento antropológico e a literatura indicam que a ocupação é anterior ao século XVIII. "Outra prova incontestável é os sítios arqueológicos encontrados nas serras Grande e do Maruai, periféricas àquela comunidade", destacou.
Conforme o antropólogo, no processo de identificação e delimitação da terra Anaro, o Grupo Técnico localizou seis posses que estão na área de influência direta da comunidade. São as fazendas Serra Grande, Tipografia, o estabelecimento denominado Internacional, Olho D'água, Soledade e Santa Emília.

Reproduzindo informações que circulam na própria Funai, Jorge Manoel disse que a terra indígena do Anaro é a última reserva a ser demarcada no lavrado de Roraima. Sobre o trabalho de campo, declarou que sua equipe não enfrentou hostilidade, apenas foi informada que incursões mais delicadas nas posses só seriam permitidas pelos donos das propriedades.

POLÍTICOS - O antropólogo discordou dos números apresentados por políticos do Estado a respeito da reserva. Em vez de 40 mil hectares, o processo de identificação e delimitação aponta uma área em torno de 18 mil hectares, na avaliação dele, razoável, se considerada a população de aproximadamente 60 pessoas de todas as idades.

A notícia de que a reserva iria do Uraricoera ao Parimé, conforme o coordenador, não passa de especulação. O trabalho indica a área de aproximados 18 mil hectares, a partir do cruzamento do rio Parimé com a BR-174, se estendendo por esta rodovia até a entrada do sítio arqueológico da Pedra Pintada, fazendo fundos com o rio Parimé. "Qualquer outra informação além disso é especulação e só serviria para tumultuar".

Roraimense de nascimento, Jorge Manoel conhece as reclamações da sociedade roraimense decorrentes da dimensão das reservas indígenas, normalmente identificadas por pessoas desconhecedoras da realidade do Estado. "Neste momento, a preocupação da Funai foi convidar para fazer estes estudos um antropólogo que conhece e vive em Roraima. Para mim, é uma demonstração de respeito com a sociedade roraimense", disse.

CRÍTICA - O antropólogo lamentou que o Estado não tenha nenhum projeto onde efetivamente inclua a participação dos indígenas no processo de crescimento e desenvolvimento social, econômico e político do Estado.
"Digo isso porque alguns meses atrás fiz um trabalho de consultoria percorrendo 5 mil quilômetros dentro de Roraima e não consegui levantar nenhum projeto social ou econômico dirigido para estas comunidades. Os projetos que encontrei eram politiqueiros, sem mecanismos efetivos de melhorar a qualidade de vida nas aldeias", avaliou.

Na visão de Jorge Manoel, as políticas públicas do Estado devem considerar a participação dos indígenas e reconhecer que eles são cidadãos e devem participar do desenvolvimento econômico e social. "Eles não podem ficar à margem deste processo".
Sobre a determinação da Constituição Federal, de que produtores desalojados de áreas indígenas devem ser reassentados, disse que só poderia falar sobre a questão do Anaro. "Eu acredito que a Funai vá fazer cumprir esta determinação junto ao Incra".

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.