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Funai não quer contatar índios - Expedição procura por tribo desconhecida

Folha de São Paulo - São Paulo - SP
Autor: Thomas Traumann
26 de Mar de 2001

Parte hoje do porto de Tabatinga, na fronteira do Brasil com a Colômbia, os três barcos de uma expedição antropológica que pretende viajar quase 4.000 quilômetros para identificar uma tribo indígena que nunca teve contato com a civilização branca.
A campanha, da Funai (Fundação Nacional do Índio), não planeja contatar os índios.
Serão mais de 50 dias de viagem até uma área entre os rios Jutaí e Jandiatuba, onde aviões da Funai fotografaram ano passado 16 malocas indígenas, que, do alto, não têm o formato e a distribuição geográfica de nenhuma outra aldeia da região.
A área pesquisada faz parte do Vale do Javari, onde está sendo demarcado um território indígena de tamanho equivalente ao Estado de Santa Catarina. A população indígena estimada na região é de 4.000 pessoas.
Vivem no Vale do Javari os povos marubo, matsés, matis, canamari e culina e grupos completamente isolados, como os corubos e, talvez, outras seis tribos.
Dos indígenas que, possivelmente, serão identificados na expedição não se sabe o nome, a língua, os costumes e nem mesmo se fazem parte de uma tribo nova. A intenção é mantê-los assim.
"Queremos registrar a presença indígena na região, saber o tamanho da área que ocupam, descobrir se essa região fica perto da ação de garimpeiros, madeireiros ou traficantes. Esses índios continuarão isolados, vivendo sob os mesmos hábitos de seus antepassados", disse o sertanista Sydney Possuelo, chefe da expedição e diretor do Departamento de Índios Isolados da Funai.
Para confirmar a presença indígena sem realizar contato com a tribo, o cronograma da expedição prevê a visita a locais onde eles estiveram recentemente.
São malocas e roças abandonadas, regiões de coleta de frutos e picadas. Esses locais de presença indígena foram descobertos nas incursões aéreas e mapeados por GPS, equipamento de monitoramento geográfico via satélite.
Ficam, em geral, a mais de 50 quilômetros das aldeias - o que, em termos de índios amazônicos nômades, são alguns quarteirões.
A expedição, batizada de Ajuricaba, é composta de 20 pessoas, entre funcionários da Funai, moradores ribeirinhos, indígenas matis, canamari e marubo e dois repórteres da Folha.
Para chegar até o local, a expedição vai subir o rio Solimões, entrar no rio Jutaí e cruzar uma faixa de cem quilômetros de floresta até a margem do rio Jandiatuba O contato com tribos indígenas isoladas representa um dos maiores dilemas da antropologia. As experiências genocidas dos últimos 500 anos mostram que o ideal é deixar os índios em paz, com sua própria cultura.
Estima-se que 53 grupos vivam ainda de forma isolada, longe do contato permanente ou regular com não-índios.

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