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Funai demite antropólogo indicado pelo Acre

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Romerito Aquino
13 de Fev de 2004

Apoiado pelo governo e pela bancada acreana, Terri Aquino soube da demissão pelo Diário Oficial da União

Terri tem atuação destacada como indigenista

O presidente da Funai, Mércio Gomes, exonerou ontem o antropólogo acreano Terri Aquino da chefia da Coordenação Geral de Identificação e Delimitação de Terras Indígenas do órgão. A demissão do antropólogo do cargo, cuja indicação foi apoiada pelo governo e a bancada federal do Acre no Congresso, foi solicitada pelo diretor de Assuntos Fundiários da Funai, Artur Nobre Mendes, que foi o último presidente do órgão no governo Fernando Henrique Cardoso, cujo candidato o atual presidente Lula derrotou nas urnas.

Segundo informou o antropólogo, as alegações do diretor Artur Mendes para demiti-lo do cargo foram as de que necessitava colocar em seu lugar alguém com perfil menos indigenista e mais técnico, que fosse capaz de lidar com o banco de dados sobre terras indígenas no Brasil que está sendo implantado no órgão.

No lugar Terri Aquino, o diretor da Funai indicou - e o presidente do órgão nomeou - a também antropóloga Nadja Rafta, que trabalhava na coordenação e vem a ser, por coincidência a mulher de Jurandir Leite, atual responsável pelo tal de banco de dados de terras indígenas da Funai. O antropólogo Terri Aquino foi indicado para o cargo na mesma época da nomeação do índio acreano Antônio Apurinã para a Diretoria de Assistência da Funai, que também teve o respaldo político do PT acreano.

A demissão de Terri Aquino foi publicada ontem no Diário Oficial da União e pegou de surpresa não só o próprio antropólogo, como também o governador Jorge Viana e os parlamentares da bancada federal acreana. Diante dos indícios de que o antropólogo seria demitido e sem saber que sua exoneração já constava do Diário Oficial de ontem - que costuma circular apenas no final da manhã em Brasília - o senador Sibá Machado e a deputada Perpétua Almeida, respectivamente, coordenador e vice-coordenadora da bancada, enviaram ofício ao presidente da Funai pedindo explicações sobre o afastamento do antropólogo.

O antropólogo recebeu o apoio político do governo e da bancada petista porque, por mais de 20 anos, foi o responsável direto pela identificação e demarcação das terras dos índios acreanos. Os próprios índios do Acre sustentam que se hoje a maioria de suas terras estão demarcadas ou delimitadas se deve em grande parte aos esforços e a determinação de Terri Aquino, que começou a trabalhar com os índios acreanos ainda no governo do professor Geraldo Mesquita.

No ofício que encaminharam ao presidente da Funai, o senador Sibá Machado e a deputada federal Perpétua Almeida, já com aval dos demais membros da bancada, manifestaram suas "preocupações" em relação à exoneração do antropólogo. "Ficamos perplexos em virtude de desconhecermos qualquer informação, seja ética ou até mesmo técnica, que justifique a saída do antropólogo Terri Aquino, que possui significativos serviços prestados ao movimento indígena, ao Acre e principalmente ao país", assinala o documento da bancada.

Ainda no documento, Sibá Machado e Perpétua Almeida sustentam que "gostaríamos de transmitir nossa discordância da intenção manifesta e de expor nossas preocupações sobre a mesma para os trabalhos da Funai, para o movimento indígena amazônico e para expressiva bancada de parlamentares e de governadores da região".

Na conclusão do documento, os parlamentares destacam que, "no intuito de colaborarmos com os trabalhos do nosso governo e para o avanço na implementação dos direitos indígenas no Brasil, solicitamos uma audiência para melhor expormos nossas preocupações".

O antropólogo Terri Aquino também se disse perplexo por sua demissão ter se concretizado com tão frágeis argumentos usados pelo atual diretor e ex-presidente da Funai na era FHC. "O que não entendo é ser demitido no governo Lula justamente pelo último presidente da Funai do governo passado. O governo Lula não veio para mudar?", indagou Terri Aquino. O antropólogo foi indicado para a Funai justamente porque o governo e a bancada federal acreana reconheceram que, após trabalhar durante décadas na regularização das terras indígenas do Acre, poderia perfeitamente ajudar o governo Lula a fazer o mesmo a nível nacional.

Índios protestam contra demissão de Txai Terri

Pelo menos seis organizações indígenas, que reúnem cerca de dez mil pessoas no Acre, noroeste de Rondônia e sul do Amazonas, manifestaram ontem repúdio à demissão do sertanista acreano Terri de Aquino da coordenação nacional de identificação de terras indígenas da Funai.

Reunidos na sede campestre da Comissão Pró-Índio (CPI), caciques e lideranças índigenas fizeram discursos irados contra a saída de Txai Terri. "É um golpe contra o direito das comunidades e contra a Funai", disse o indigenista Antonio Macedo, que trabalhou no Acre com Terri.

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