VOLTAR

Funai de MS acusada de negociata com terras indígenas

Correio do Estado
03 de Set de 2007

O núcleo da Funai existente em Bonito foi denunciado no Ministério Público Federal, de ter transformado-se em local de negociata criminosa em forma de arrendamento de fazendas no interior da reserva indígena de Bodoquena, onde vivem cerca de 1,2 mil indígenas.

A acusação é do servidor Antonio Beserra da Silva, técnico em indigenismo, lotado no posto indígena Kadiweu, em Porto Murtinho. A denúncia foi oficializada na última segunda-feira ao Ministério Público Federal. Entre os que ocupam a área, existem pessoas que exercem forte influência política e econômica no Estado.

Segundo Antonio Beserra, a ação criminosa é "promovida por cartel formado por alguns servidores da Funai e por pessoas ligadas à entidade que representa os pecuaristas". Na denúncia ele não citou o nome da referida entidade.

O servidor da Funai afirma que no ato da negociação entre as partes é estabelecida cobrança em forma de "jóia", envolvendo alta quantia em dinheiro. O valor seria rateado entre três partes. Uma parte iria para o índio e seus familiares que residem na área indígena. A outra vai para o representante da entidade dos pecuaristas e a última para o servidor da Funai, encarregado de conduzir o acerto.

O denunciante afirma que o servidor José Resina, chefe do posto indígena de Bonito, tem conhecimento do crime, mas não fez nada para coibir a prática ilegal.

Na reserva indígena de Bodoquena, que envolve uma área de aproximadamente 538 mil hectares, Antonio Beserra afirma que nos últimos meses vem sendo feito trabalhos de agrimensura promovidos por fazendeiros, em áreas que estão sob litígio. Há aproximadamente 20 anos, os fazendeiros entraram na Justiça alegando que a demarcação realizada pelo Exército não valia. Os índios residem numa área de 370 mil hectares e brigam para ter direito a outros 170 mil hectares. Até hoje a questão não foi julgada.

Em alguns pontos foram o colocados marcos de concreto com coordenadas geodésicas para demarcar as áreas."O patrimônio da União vem sofrendo toda ordem de depredação, tais como desmatamento, extração e roubo de madeira, caça e pesca ilegal", afirma.

Por não concordar com a ação criminosa, Antonio Beserra afirma que está sendo vítima de perseguição no seu trabalho. Ele diz, inclusive, que ocorreu suspensão do seu pagamento salarial, com base em suspostas folhas de ponto que não teriam sido assinadas por ele. Os documentos foram encaminhados a Brasília, e o órgão decidiu puni-lo.

O presidente da Associação da Reserva Indígena Kadiweu, Francisco Matchua, 42 anos, confirma as denúncias. Ele disse que esteve na Funai no dia 22 de agosto e até agora nem uma providência foi tomada. "Demos um prazo para eles até quarta-feira. Se nem uma providência for tomada, os índios é que vão agir, visando retirar todos funcionários das empresas que estão demarcando o local. Caso não resolva por bem, vamos tomar iniciativa própria e procurar nossos direitos. Vamos tirar o pessoal até a Justiça tomar sua decisão", ameaçou.

Ele confirmou que existem várias áreas que são exploradas por políticos de renome no Estado, além de importantes pecuaristas. Segundo ele, com apoio de alguns funcionários da Funai, eles costumam fazer um contrato falso, usando nomes de índios, para arrendar as áreas. "Eu acho que envolve muitos interesses políticos, por isso que até hoje a Funai não fez nada".

A denúncia feita pelo servidor Antonio Beserra da Silva também foi oficializada ao administrador executivo regional da Funai, em Campo Grande, Claudionor do Carmo Miranda, no dia 27 de agosto. O Correio do Estado tentou localizá-lo, mas seu telefone estava desligado. Foi deixado recado no seu celular, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Já o Ministério Público Federal, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que a denúncia ainda será distribuída para um procurador do órgão, que deverá investigar o caso.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.