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Funai ajuda índios em contrabando de artesanato

Jornal do Brasil -Rio de Janeiro-RJ
Autor: Hugo Marques
23 de Mai de 2004

FBI ajuda polícia a desvendar rede de comércio de partes de animais silvestres

- Documentos apreendidos pela polícia federal americana, o FBI, mostram que a Fundação Nacional do Índio (Funai) abastecia o contrabandista de origem tcheca Milan Hrabovsky, preso nos Estados Unidos no fim do ano passado. Hrabovsky vendia partes de animais silvestres vindos do Brasil. A documentação inclui notas fiscais da Funai enviando material diretamente para o contrabandista.

Investigação do FBI e da Polícia Federal revelou que as partes de animais eram enviadas para o exterior em forma de arte tribal. Nos depoimentos de 11 pessoas presas no Brasil - envolvidas com o contrabando para Hrabovsky - a PF constatou que os animais silvestres eram mortos pelos índios ''exclusivamente'' para confeccionar artesanato para exportação, destinada à rede de comércio de Hrabovsky.

De acordo com uma das notas fiscais, a Funai vendeu para a República Tcheca várias mercadorias, entre elas colares e pulseiras com presas de onça e rabo de arara. A exportação não teve autorização do Ibama, segundo informou a PF. O contrabandista fazia seus pedidos diretamente à Funai. Numa mensagem de Hrabovsky para o chefe do Posto Indígena Rikbatsa, em Juína (MT), Francisco das Chagas Cavalcante, o contrabandista fez uma série de encomendas, entre elas garras de gavião, presas de onça, bico de tucano, dente de capivara e unha de tatu-canastra.

Para o chefe da Divisão de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente, delegado Jorge Pontes, o contrabando envolvendo a Funai representou um dos maiores estragos na biodiversidade do país. Pontes exibiu um colar de dentes caninos, que pode ter levado à morte pelo menos 11 onças pintadas. Os índios recebiam no máximo R$ 10 por presa de onça. No exterior, uma peça destas custa mais de US$ 5 mil. A lista de materiais exportados inclui ainda chocalho de tartaruga e bolsa de casco de tatu.

- O que ocorreu foi uma chacina de animais silvestres ameaçados de extinção, em escala industrial - indigna-se Pontes.

A Funai afirmou que todos os crimes registrados pela PF ocorreram em gestões anteriores. A atual direção do órgão explicou que instaurou procedimentos administrativos para afastar todos os servidores envolvidos com o contrabando. A entidade solicitou a apreensão de todos os objetos feitos com partes de animais.

Pontes propõe a proibição total da venda de artesanato indígena que inclua partes de animais. Ele vai manter contato com o Ibama e com a Funai. O objetivo é tornar mais rígida a investigação sobre o tráfico de partes de animais. O delegado defende uma legislação com penas mais duras para o tráfico de partes de animais.

A PF também investiga a existência de uma rede de contrabando que explora os índios para colher manteiga de tartaruga, que seria utilizada na fabricação de cosméticos nos Estados Unidos. Além da Funai, o contrabandista Hrabovsky tinha uma extensa lista de fornecedores no Brasil. Recolheu nas últimas duas semanas 5 mil itens de artesanato com partes de animais em extinção, em 30 lojas, em 10 Estados.

Documentos apreendidos pela agência americana para pesca e vida selvagem (Fish and Wildlife Service) incluem uma correspondência de Hrabovsky, de 1995, onde o contrabandista diz: ''Eu tenho quatro índios Satere trabalhando comigo diariamente em Parintins. A viagem demorou mais porque temos muitos clientes para atender''. Em outra carta, o contrabandista escreveu: ''Os índios aumentaram sua produção no ano passado, fizeram 1.200 rainsticks em seis meses''.

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