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Fruta rara tem safra de quatro em quatro anos

A Crítica - www.acritica.com
Autor: Gerson Severo Dantas
23 de Fev de 2010

Os biólogos estimam que existe 1,8 milhão de espécies de animais e vegetais catalogados na Terra e ainda de 10 a 40 milhões que não foram sequer descritas. Boa parte dos vegetais está na Amazônia, região que concentra a maior biodiversidade do planeta e uma prova desse desconhecimento é o caramuri. Fruta de polpa muito doce, cuja safra dá de quatro em quatro anos e apenas na região do baixo Amazonas, predominantemente no Município de Maués, o caramuri é uma ilustre desconhecida no universo das frutas amazônicas, mesmo em institutos de pesquisa.

Nascido na terra do guaraná, o contador Beto Mafra conhece o caramuri desde pequeno e, este ano, aproveitou a super safra que "invadiu" os mercados e feiras de Maués e trouxe alguns exemplares para distribuir a amigos pesquisadores.

"Eles levaram para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e para a Embrapa. Ninguém conhecia", conta.

Conforme Beto, o caramuri parece ser um parente do abiu, pois tem polpa e caroço semelhantes, mas sem aquela substância que faz os lábios colam. A árvore do caramuri nasce no meio da mata, em regiões de floresta densa, tem o tamanho equivalente ao de uma mangueira e o fruto individual espalha-se pelos galhos. "Pelo meu conhecimento, ela só dá no baixo Amazonas e de quatro em quatro anos, coincidentemente em anos de Copa do Mundo e de eleições presidenciais", relata Beto.

Cumidia
Na região, a frutinha é conhecida pelos caboclos por servir de "cumidia", local onde animais silvestres vão para comer o fruto, que é muito apreciado por antas, cotias, pacas e até macacos. Segundo relato de Beto Mafra, onde tem caramuri tem bichos de caça e, "na cola", deles os caçadores do interior.

Beto Mafra conta que decidiu trazer alguns frutos para serem pesquisados após ver o sucesso do rambutã, fruta trazida da Malásia e adaptada à região e que hoje é vendida nas esquinas de Manaus. "Para que trazer uma fruta dessa se temos tantas aqui tão saborosas quanto?", questiona. "Manaus vai sediar uma Copa do Mundo e porque não apresentar uma fruta saborosa como o caramuri para o turista, uma fruta nossa, tão gostosa quanto qualquer outra? Agora é preciso pesquisar, conhecê-la e depois transformá-la em produto, em sorvete, pudim, doces, cremes, mousses, essas coisas", analisa.

Curiosidade
O fato de o Caramuri só aparecer nas feiras e mercados de Maués a cada quatro anos e coincidentemente em anos de eleição, fez o povo associá-lo a figura do político espertalhão. "O nosso caboclo é criativo e quando vê esse tipo de político que só aparece em ano de eleição vai logo dizendo: 'Olha alí um Caramuri!' Se for um senador, um governador, vira logo um Caramuri-açu",diverte-se Beto Mafra.

Potencial
De acordo com o engenheiro agrônomo Luiz Antônio Cruz, o trabalho de pesquisa sobre o caramuri deve iniciar pela investigação do ciclo de germinação, como é a multiplicação da espécie e se ela se reproduz pela semente ou por estaquia (galho). "Se for por semente, se é só jogar no chão ou se há um período de dormência? Se houver dormência, é preciso ser em frio ou calor, ou frio e calor em períodos alternados?", explica ele. Passada esta fase, salienta será investigado se de fato o caramuri só dá fruto de quatro em quatro anos e se isso é uma característica genética da espécie ou ocorre porque a árvore está em competição por luz e nutrientes no meio da floresta. "Numa terceira fase será preciso descobrir as características morfológicas, saber o PH, o teor de vitaminas e daí aferir o potencial econômico da fruta", salienta.

http://www.acritica.com/amazonia/Fruta-rara-safra_0_277172287.html

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