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Fracasso

O Globo, Opinião, p. 6
14 de Dez de 2005

Fracasso

Pelo desfecho que teve, a reunião da ONU sobre o aquecimento global, em Montreal, Canadá, poderia jamais ter sido realizada. Pois não cumpriu sequer parcialmente seu propósito de estabelecer normas para a emissão de gases do efeito estufa a partir de 2012, quando perderá validade o Tratado de Kioto.

Na realidade, hoje Kioto é muito pouco eficaz, porque não contou com a adesão do país que mais lança gases na atmosfera (cerca de 25% do total), os Estados Unidos. E a conferência de Montreal chegou ao fim sem que se registrasse qualquer mudança na posição americana. Houve apenas um acordo vago entre os demais países, pelo qual novas metas, não estipuladas, serão negociadas após 2012.

Enquanto isso, acumulam-se provas científicas não só de que a temperatura global está realmente subindo, como de que isso decorre da ação do homem - e de que o processo está em aceleração. A Europa está hoje em meio a uma de suas maiores alterações climáticas dos últimos 5 mil anos, e esta é apenas a mais recente de uma série incessante de notícias assustadoras sobre as transformações do clima. Anomalias como o aparecimento de um furacão no Hemisfério Sul (o Catarina, em 2004), outro que chegou à Península Ibérica e mais um número inédito de furacões de grande intensidade no Atlântico, o encolhimento da calota de gelo polar no Ártico, a elevação do nível dos oceanos, uma extraordinária onda de calor na França, que matou mais de 20 mil pessoas - tudo isso e muito mais constituem comprovação definitiva de que um novo e muito mais abrangente tratado é uma necessidade urgente.

Os americanos argumentam que o acordo criaria sérias dificuldades para sua economia, o que não deixa de ser verdade; mas é evidente que há um preço a pagar. Alegam ainda que Brasil, China, Índia e outros países em desenvolvimento não podem ficar de fora, o que é capcioso: não foi o Terceiro Mundo, mas o Primeiro, que levou o mundo à situação atual.
Mas os EUA decidiram optar pela inação face a um problema mundial que se agrava continuamente. Uma postura irresponsável, que põe em xeque o futuro do planeta.

O Globo, 14/12/2005, Opinião, p. 6

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